Notícias

A hora é agora: Plano de recuperação para os Lagos de Furnas e Peixoto e o uso múltiplo de suas águas

Mais um ciclo de chuvas vai se encerrando para muitos.


Mas ainda é possível constatar a vida se renovando no Sul, Sudoeste e Centro Oeste mineiros, com a chegada às cotas mínimas de água nos Lagos de Furnas e Peixoto, em fevereiro. À navegação plena em torno de 3.550km de orla e esportes náuticos somam-se o ecoturismo, o turismo de aventura, a hospitalidade, o artesanato e a riqueza gastronômica de Minas Gerais – fatores positivos para o turismo de experiência de Minas para Minas. Um sopro de alento para os produtores rurais, os piscicultores, os empreendedores do turismo, do comércio e de serviços – um quadro que deveria se perpetuar sem sobressaltos para crescimento de oportunidades para uma região que tem muito a contribuir para o estado e o Brasil.

Entretanto, no final de abril se encerra o controle de vazão dos Lagos, através da resolução 111/2021 da Agência Nacional de Águas e Saneamento – e com o seu encerramento, aumenta a situação de angústia do povo, ao vislumbrar novamente a dor e a tragédia, ante a perspectiva de um mesmo modelo de gestão dos nossos recursos hídricos para a geração de energia hidroelétrica para o país – repetição de um ciclo mortal que ofende a soberania de Minas Gerais!

Até quando vivenciaremos este ciclo impiedoso de oscilação de águas, que gera desemprego, prejuízos nos negócios e desastre ambiental em proporções inimagináveis? O que podemos esperar das agências com o alcance das cotas mínimas 762 e 663 pleiteadas por entidades como Acminas, Federaminas e Alago? Por 4 movimentos sociais, por 5 circuitos turísticos e 3 comitês da bacia hidrográfica do Rio Grande? Conhecemos a dor e o sofrimento de quem depende das águas para sua sobrevivência. Conhecemos o desespero de quem investiu na piscicultura, em pequenos negócios do turismo, nas
propriedades rurais e na agricultura familiar – 5000 empreendimentos e 20 mil empregos formais são afetados anualmente
Conhecemos o impacto negativo na vida de milhares de pessoas de 34 municípios lindeiros a Furnas e 7 a Peixoto.

Conhecemos o desastre ambiental decorrente da oscilação de nossas águas – mortandade de toneladas de seres vivos com este vai-e-vem eterno. Lutamos por 15 meses diretamente no cenário federal… nas salas de crise da ANA e pelas mídias
sociais. Questionamos as instâncias federais e ouvimos pacientemente as previsões hidrológicas catastróficas, o alto custo para acionar as termelétricas e a preocupação com a segurança energética do país. E, finalmente, fomos contemplados com uma resolução que controla a vazão das águas dos lagos até abril próximo.

E agora, o que precisamos?
Precisamos que a mudança do padrão operativo de geração de energia seja efetivo – encher “reservatórios” para gerar até a cota mínima e nunca abaixo delas. Assim teremos o direito ao uso múltiplo das águas (legalmente nosso direito pela constituição mineira e pela Lei das Águas). Até o crescimento da energia solar e eólica, precisamos que a geração termelétrica se mantenha até o reenchimento dos lagos, mesmo no período chuvoso, pois é de menor custo para a população
brasileira.

Precisamos que o derrocamento do pedral em Nova Avanhandava, em SP, seja realizado, pois possibilitaria recuperar 10% do volume útil de Furnas. Precisamos enfim, que Minas Gerais receba um planejamento eficiente e eficaz de curto, médio e
longo prazos, que garanta o uso múltiplo das águas, com uma gestão energética menos dependente
dos recursos hídricos. Precisamos de investimentos para a efetiva integração do sistema de transmissão e distribuição
nacional de energia, com diversificação da matriz energética. Precisamos da revisão das outorgas, como estabelecido pela Emenda Constitucional 106!

É passada a hora de enfrentarmos a realidade de negligência e caos instalado há anos (não apen=as
neste atual governo federal) no sistema energético nacional. E com o olhar de reconhecimento pela contribuição de Minas Gerais para o desenvolvimento nacional, à custa de milhares de ribeirinhos que se adaptaram à nova realidade quando da inundação de terras férteis no entorno dos lagos.

Vamos lutar unidos pelo nosso povo – pela VIDA e pela sobrevivência de quem depende dos Lagos!

Maria Elisa Ordones de Oliveira
Coordenação do PROFURNAS762
Membro do Grupo de Trabalho por Furnas e Peixoto da ACMinas