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A paz do fundo do mar

Pandemia faz famílias procurarem cursos de mergulho em BH em busca de melhora na saúde e no bem-estar

Vieram a pandemia, o isolamento, a apreensão frente à imprevisibilidade da existência, a necessidade de saber lidar com as exigências da vida… Como cuidar da saúde mental neste contexto de pandemia? A psicóloga Lorena Lustosa começou a mergulhar. “A experiência de um mergulho é como se eu tivesse feito uma hora de meditação. A respiração precisa ser profunda, lenta, ao contrário da superfície, onde estamos sempre estimulados, sem tempo para contemplar”, diz.

Ela conta que a vontade de mergulhar vem há tempos, quando era criança e tinha o sonho de nadar com tubarões. A vida foi passando e quando soube que a irmã Júlia havia mergulhado, procurou a escola Mar A Mar, em Belo Horizonte, e fez o curso básico. O primeiro mergulho ocorreu em Cabo Frio (RJ), no mês passado. “Estava um pouco ansiosa, mas logo que o mergulho começou veio uma calma com o silêncio e com a contemplação das cores do fundo do oceano.”

Lorena Lustosa quer mais. Neste mês, vai fazer o curso avançado, e já agendou para março mergulhos em Guarapari (ES); em junho, vai viajar com a equipe da Mar A Mar para Cozumel, no México, onde há a possibilidade de ver tubarão baleia, um gigante inofensivo. Além da tranquilidade, da melhoria da saúde mental, ela lembra da sociabilidade. Todo mergulho é feito em dupla por questões de segurança e as viagens são compostas por outros amantes da atividade. “No mergulho, a gente encontra uma comunidade acolhedora. Na pandemia, com o isolamento, as pessoas se afastaram, perderam contato e é muito bom ter esta nova possiblidade de conexão”, avalia. Ela pensa em realizar pesquisa na área de psicologia sobre essa interação de quem faz mergulho.

Foto: Pixabay

A médica pneumologista Helaine Brandão Goes, 55, nem pensava na atividade. No final de 2020, ela e a família programaram uma viagem para Fernando de Noronha e a agência sugeriu o mergulho como uma atividade imperdível durante a viagem. Helaine ligou para a Mar A Mar e foi junto com o marido, o pneumologia Maurício Goes, 55, e os filhos Carolina, 17,  Lucas, 24, e Mateus, 22, fazer o curso. “Eles sempre viajaram, desde crianças. Já foram para a Índia, Tailândia…, mas eu nunca tinha visto o brilho nos olhos deles como depois do mergulho. Foi como se a gente estivesse dentro de um aquário”, relata.

O mergulho uniu mais os Goes, e o interesse se expandiu para pessoas próximas. A nora Maíra vai fazer o curso, outros familiares ficaram contagiados. “É uma atividade bem completa, estimula um melhor cuidado com a saúde. Além da questão física, ajuda muito a mente, a respiração é diferente, não é tão rápida quanto na superfície. É como se fosse uma medicação, nos proporciona uma grande tranquilidade”, explica a médica.

Ela diz que se arrepende de não ter procurado o mergulho antes. Agora, a família quer fazer mais cursos, mergulhar em Bonaire, no Caribe, com cerca de 470 espécies de peixes, levar mais familiares. Estão já tentando conciliar a agenda de todos.

Mas até nisto a atividade colabora. “Para mergulhar não há necessidade de muito tempo livre, nem mesmo de férias, temos constantemente viagens de final de semana para diversos destinos: Cabo Frio, Arraial do Cabo e Ilha Grande. Saímos sexta-feira de BH e voltamos no domingo à noite. Dois dias que já conseguimos desestressar bastante fazendo até 5 mergulhos”, informa Paula Loque, diretora da Mar A Mar.

A cirurgiã dentista Roberta Myrrha, 52 anos, sempre quis mergulhar e, com a pandemia, viu uma oportunidade de participar do curso, em fevereiro do ano passado, com a família: o marido Felipe Monte-Mor, 55, e os filhos Henrique, 19, e Laura, 17. No mês seguinte, foram mergulhar em Cabo Frio e no início de junho em Fernando de Noronha. “É uma sensação maravilhosa, fantástica, ainda mais com a família toda participando”, diz Roberta.