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Belo Horizonte: Capital do Turismo de Saúde – Um mercado internacional complexo e competitivo

MPF e MPE também questionam alto valor do pedágio, fixado em R$ 12,70 (Arquivo

PROF. DR. RICARDO GUIMARÃES

Sim, o turismo médico é um dos nichos de mercado mais quentes na hotelaria e indústrias de viagens. Porém, o Turismo de Saúde é um setor complexo que demanda apoio por meio de projetos tríplice hélice. Ou seja: planejamento central, com envolvimento governamental para criação de políticas de fomento e legislação de apoio, seguida de convite à academia e iniciativa privada para investimentos que gerem desenvolvimento regional em áreas de inovação.

Nossa avaliação com pares, leva em consideração a criação de diretrizes de turismo médico (saúde é um setor em evolução constante) e o credenciamento internacional do país junto às associações mundiais, em harmonia com normas internacionais. Mas, embora BH tenha vocação para ser uma referência em serviços de saúde, não basta somente atrair
“turistas-pacientes” para Minas. O planejamento prévio da jornada que antecede a chegada do paciente, demanda uma cadeia de produtos e serviços necessários para assegurar uma experiência totalmente positiva para quem contrata cuidados com a saúde.

Somente conseguiremos atrair e fidelizar o paciente, alavancar o setor e alcançar o reconhecimento de BH no mercado de
Turismo de Saúde no Brasil e no exterior, se promovendo excelência na totalidade do percurso do paciente. Segurança pública, serviços de hospitalidade, que começam na chegada ao aeroporto, bem como a continuidade da qualidade na prestação dos serviços de saúde são fatores críticos de sucesso.

Quando trabalhamos para construir um parque de serviços médicos de qualidade “do tipo exportação”, melhoramos também para o público local, além de atrairmos investimentos em cascata para a nossa comunidade. O benefício é exponencial. Em muitos países, existe carência de determinados procedimentos médicos em alguns setores da saúde. Médicos e pacientes enfrentam filas de espera de vários meses, ou até mesmo anos, para realizar cirurgias cardíacas, implantar marca-passos,
próteses ou órteses.

Na Inglaterra, por exemplo, a cirurgia de prótese de fêmur demora mais de um ano. Uma cirurgia de catarata no Canadá pode chegar ao mesmo tempo de espera. Mas, sabendo que este tempo de espera é muito menor no Brasil, não há como negar
que o nosso maior atrativo é o custo final do serviço. Este custo pode permitir o fechamento de contratos para a execução de centenas de procedimentos de um convênio, ou seguradora, com uma clínica ou hospital brasileiros. Enquanto uma troca
de válvula cardíaca custaria 200 mil dólares ou mais nos Estados Unidos, o mesmo serviço pode ser orçado no Brasil por 15 mil dólares.

Barato não pode sair caro.
Mesmo praticando valores bem mais baixos, os serviços de saúde no Brasil não podem ser inferiores em qualidade aos realizados no exterior. Em um contrato típico de Turismos de Saúde, complicações e resultados mau sucedidos envolvem
uma seguradora que vai responsabilizar e penalizar financeiramente “a posteriori” o médico e a instituição que realizarem o procedimento.

Importante ressaltar que este é um mercado muito competitivo e os hospitais e clínicas que atendem ao mercado de turismo de saúde, muitas vezes, estão entre os melhores do mundo. São formados por médicos treinados nos principais centros médicos na América e na Europa. Além disso, sempre existe a exigência de uma certificação ou acreditação internacional dos hospitais para garantir a qualidade dos serviços de saúde aos seus clientes.

Dr. Ricardo Guimarães, respeitado
nacional e internacionalmente

De Beagá para o mundo.
Mas Beagá registrou outros pioneirismos que mereceram manchete nos jornais. Os primeiros ensaios e tentativas de um
transplante cardíaco, por exemplo, foram feitos no Hospital das Clínicas e no Felício Rocho. As primeiras cirurgias de válvula cardíaca foram mineiras, no Biocor, e até hoje temos fábricas de válvulas que são exportadas para os EUA e Europa. O primeiro transplante de córnea foi realizado pelo Prof. Hilton Rocha que criou uma escola internacional de oftalmologia em Belo Horizonte.


O Brasil vinha tratar seus olhos aqui. Depois de Hilton Rocha, muitos dos seus alunos viriam brilhar no cenário nacional e internacional da oftalmologia. Pessoalmente pude participar destes avanços. Juntamente com Dr. Paulo Ferrara fizemos o implante do primeiro anel intraestromal para ceratocone, Técnica que, hoje, é adotada mundialmente. As primeiras cirurgias de catarata com implante de lentes intraoculares no Brasil também foram feitas aqui e no Rio de Janeiro, inclusive por mim, no Hospital São Geraldo e no Centro Oftalmológico.

Novos investimentos desembarcando.
A importância de BH era tal, que por aqui surgiram também as primeiras fabricas de lentes intraoculares e material de microcirurgia. Esta retrospectiva foi para mostrar que temos história de pioneirismo na área de saúde e que precisamos reacender esta vocação para um grande centro de medicina. Temos um governador que vem trabalhando na recuperação econômica e criando atração para investidores. Apenas em 2021, registramos a vinda dos grandes grupos de saúde para BH como a Rede Dor, HapVida, Intermédica, e a criação da mineira Rede Mater Dei. Sem esquecer que a internacional Oncoclínicas, nasceu em Minas. Empresas de Inteligência Artificial empregadas na saúde, como o Grupo 3778, são fornecedoras de clientes exigentes como os Hospitais Einstein e Sírio Libanês. E até a Google veio para o estado e conta, hoje com mais de 100 engenheiros e profissionais de TI e IA em seus laboratórios mineiros.

Uma Cidade Médica em BH
Estes investimentos e empresas referência, produtores de ciência básica, são fundamentais para dar apoio e suporte à criação de um grande centro de conhecimento aplicado na modelagem de uma capital referência em serviços médicos. Mas
falta ainda a criação de um grande centro médico moderno, bem localizado, idealizado para corresponder as descrições de uma Cidade Médica Internacional. Mas temos que ter turismo para o turista. Somente competência do setor de saúde
não basta.

Sim, somos competentes e atraímos pacientes de todo o Brasil. Em nosso Hospital de Olhos, todas as semanas, registramos pessoas vindas de norte a sul do Brasil. Elas buscam, em Belo Horizonte, tratamentos que só encontram por aqui. Por outro
lado, a busca de pacientes internacionais já foi maior… Minas precisa recuperar seu brilho para voltar a atrair pacientes estrangeiros.


O turismo de saúde precisa ser complementado com alternativas de turismo regional. Minas tem muitas cidades históricas, belezas naturais que são muito conhecidas. Se para muitos, a doença representa uma perda de lazer e das férias, para
outros é uma oportunidade de combinar lazer com um tratamento em um centro de referência. O turismo médico é um dos nichos de mercado mais quentes para a hotelaria (hospitalidade) e turismo.

P.S.: No mesmo dia que finalizei este artigo, recebi a notícia que o governo do estado de Minas Gerais publicou o edital da Parceria Público Privada (PPP) para a construção do Rodoanel de Belo Horizonte. O leilão está marcado para o dia 28 de abril. A construção será realizada por etapas, com início nos trechos de maior movimento, no caso, os trechos Norte e Oeste, que passam por cidades como Contagem, Betim e Santa Luzia. Esses dois trechos concentram cerca de 70 por cento da movimentação e devem ficar prontos em até 4 anos. Já os trechos Sudoeste e Sul, devem ser entregues em até 6 anos. Esta notícia, finalmente, nos leva a um pensamento extremamente positivo a respeito do futuro de BH como uma grande sede de Turismo de Saúde. O Rodoanel cria as condições para a construção da International Medical City, em sinergia com a Aerotrópolis no Aeroporto de Confins