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Cônsul da Itália faz balanço de sua gestão em Minas

Patrícia Coutinho – Especial para o JORNAL MG TURISMO

A entrevista de hoje, que tem sabor de despedida, é com o simpático e competente Cônsul da Itália em Minas Gerais, o pai do Bruno e do Marco napolitano e ex-jogador de basquete, agora eterno mineiro, Dario Savarese!

Dario Sabarese, que deixa o Consulado nos próximos dias

Dário, ser diplomata sempre foi um desejo seu? Quais os pontos positivos e negativos da carreira diplomática? Os filhos ficam prejudicados com as mudanças constantes?

De verdade eu sempre quis ser cineasta! Cheguei a querer ser diplomata mais tarde, uma vez que tinha já acabado a universidade. Mas com certeza a minha mãe ficou muito mais feliz com essa escolha. Eu gosto muito do que eu faço, não tem como se entediar. Além das viagens, essa carreira tem a vantagem de ser poliforme: uma hora você trata de questões comerciais, outra você faz política, outra você trabalha com questões consulares… porém, não é um trabalho que tem horá- rio fixo. Ser diplomata engole tudo isso e ainda: família, rotinas, amigos… Com certeza não é fácil pela questão familiar, é muito cansativo se mudar e não ter estabilidade. Você sabia que a taxa de divórcio entre os diplomatas é muito mais alta do que da maioria da população?

Você pode contar um pouco da sua carreira? Quando iniciou? Quais países já serviu? Na Itália também é feito via concurso como no Brasil?

Iniciei em 2010, após ter passado em concurso público na Itália. Por alguns anos fiquei no escritório que se ocupava de questões comerciais globais e multilaterais. Foram anos interessantes e bem formativos! Depois fui encarregado comercial na Tunísia onde existem muitas empresas italianas. Logo depois cheguei aqui.

Dário, você iniciou seu posto de Cônsul da Itália em Belo Horizonte em 2018, sendo que em 2020 iniciou-se a pandemia. Ficou algo por fazer? Qual o impacto da pandemia na sua gestão?

A pandemia impactou na vida de todos. Logo antes da pandemia nós havíamos lançado o serviço para agilizar o processo dos passaportes. Anualmente, recebemos mais de dois mil pedidos de cidadania italiana por exemplo. Eu trabalhei para que o Consulado evoluísse na qualidade dos serviços consulares, que fosse propulsor de uma forte diplomacia cultural com eventos e exposições de relevo internacional. Os primeiros meses de pandemia foram muito conturbados: tratamos de ajudar os italianos que ficaram “presos” aqui a voltar na Itália. Isso ao final é o nosso papel principal. Um outro desafio foi reorganizar o Consulado para garantir a segurança e a saúde dos empregados no lugar de trabalho e dos usuários. Foi necessário focar no essencial.

Quando em 2021 ficou evidente que o Covid estava aqui para ficar, voltamos a ter projetos mais altos. Em maio organizamos o primeiro Business Forum entre empresas mineiras e italiana. Foi um grande sucesso! Além disso prosseguimos com uma programação cultural rica e interessante, inclusive a recente mostra sobre o mestre renascentista Raffaello.

Você fez viagens pelo estado de MG? Algum lugar em específico que ficará na memória?

Acho que consegui visitar um pouco do país e de Minas Gerais. Gostei de tudo em Minas: o charme de Tiradentes, Ouro Preto e Diamantina, a natureza de Capitólio, as paisagens do Sul de Minas e do Triângulo. Mas provavelmente as duas coisas mais impressionantes para a minha família foram:

Primeiro: a cultura das fazendas. Tive a sorte de ficar alguns tempos em fazenda de amigos e foi maravilhoso. Se despertar cedo para tirar o leite das vacas, o café da manhã com queijo e goiabada, cuidar das galinhas, passear a cavalo até chegar numa cachoeira linda onde a gente pôde nadar. Isso é muito mais que um luxo! Talvez para os brasileiros isso é normal, porém na Europa nem nos melhores resorts você pode experimentar algo parecido.

Segundo: com a minha família consegui visitar uma importante mina de gemas em Governador Valadares. Fiquei entusiasmado. Explorar o interior da terra, procurar as traças e tirar com as suas próprias mãos essas riquezas da terra é muito mais que comprar uma jóia! É uma experiência inesquecível.

O convite para conduzir o Consulado de Belo Horizonte lhe foi ofertado à época ou você fez uma es- colha consciente do posto? Você conhecia Belo Horizonte ou tinha algum relacionamento aqui?

Até agora sempre fiz escolhas profissionais junto com a minha esposa. Depois da Tunísia, a gente tinha vários desejos. Eu quis ser Chefe Consular e a minha esposa quis ter uma boa qualidade de vida. A presença da escola italiana em Belo Horizonte foi fundamental.

Você é um homem novo, 38 anos, o que você deseja alcançar em sua carreira diplomática? Quais localidades você deseja servir?

O desejo de todos os diplomatas é se tornar Embaixador um dia. É uma responsabilidade e uma honra enorme servir seu próprio País em prol das relações bilaterais, dos italianos e das empresas.

Agora já as próximas localidades é uma pergunta mais difícil. As exigências mudam muito no curso da vida de uma família e eu quero privilegiar a minha família. Até hoje nós quisemos morar em lugares com uma boa qualidade de vida, um clima suave, uma cultura e um idioma próximo ao nosso. Talvez no futuro vamos considerar outros fatores como a educação dos filhos.

Falando em diplomacia econômica, em nú- meros, qual o tamanho da presença das em- presas italianas no estado? Alguma região com maior presença?

Tem 100 empresas italianas instaladas em Minas, de vários setores: automotivo, energia, transporte, agroalimentar, construção e outros. Elas estão em todo o estado.

O que você espera do futuro das relações comerciais entre Itália e Minas Gerais?

As empresas italianas que investiram em Minas, criando valor agregado, tiveram sucesso e cresceram. Minas Gerais oferece oportunidades notáveis para fortalecer ainda mais as relações bilaterais da Itália com o Brasil. Acho que os investimentos italianos em Minas podem e tem que ser intensificados, diante do potencial inexplorado de complementaridade entre os dois sistemas produtivos, aproveitando dos incentivos fiscais, do aeroporto como pólo logístico, do crescimento do setor agroalimentar, da necessidade de novas tecnologias para a indústria, da expansão do setor de energia, da busca por soluções inovadoras e sustentáveis para a realidade corporativa e urbana.

Qual a lembrança mais marcante dos últimos 4 anos? O que você mais vai sentir saudade?

Quando cheguei em Guarulhos da Tunísia. Saímos do aeroporto e ficamos algumas horas es- perando o voo para BH e a cia aérea, por conta do atraso, nos levou de taxi para um hotel. No caminho, fiquei impressionado com o tamanho das folhas das árvores, com a cor verde intensa e com algumas capivaras. Fiquei impressionado, eu nem sabia o que era uma capivara!

Falando de saudade tem muitas coisas que vão fazer falta. Primeiro a fruta. Me tropicalizei aqui e agora quero comer todos os dias uma goiaba, uma manga, um abacate. Na Europa não tem o mesmo sabor. Vai ser difícil. E a natureza também, o espaço livre, o clima perfeito que vo- cês têm aqui. E claro os amigos mineiros!

Qual o conselho ou dica você daria para o seu sucessor (a)? Você já sabe quem vai ocu- par o posto?

Ainda não tem o nome do colega que vai ocupar meu posto.

“Addio” ou “Arrivederci”??

Até breve!