Sem categoria

JUDEUS SEFARDITAS EM PORTUGAL
Saga para MG e caminho reverso dos descendentes

POR LUANA BASTOS / TRAVESSIA CIDADANIA

Após cinco anos de pesquisas, em 2021, descobrimos que o Marden, meu marido, era des- cendente de judeus sefarditas e
que poderia requerer a cidadania portuguesa. Foi então que decidi- mos nos mudar para Portugal e desembarcamos em terras lusitanas em março deste ano. A melhor parte de estarmos aqui é poder conhecer os lugares relacionados a comunidade judaica e resgatar a história da fa- mília. Os judeus sefarditas viviam na Península Ibérica (Portugal e
Espanha) e foram expulsos a partir de 1492, quando começou a Inquisição Espanhola.

Muitos vieram para Portugal, pois tinham a proteção do Rei Dom Manuel I, afinal os judeus sempre ocuparam cargos de destaque na corte, pois tinham muitos conhecimentos científicos, econômicos e culturais. Mas em 1496, para poder se casar com a princesa espanhola, D. Isabel, e ter o domínio da Península Ibé- rica, o rei decidiu expulsar os judeus (e os mouros/muçulmanos) que não se convertessem ao catolicismo.

Em 1506, no Largo de São Domingos, aconteceu o massacre de Lisboa, no qual durante três dias, mais de quatro mil judeus foram mortos pelos católicos. Diante disso, a Coroa permitiu então a emigração dos cristãos-novos ou cripto-judeus, como eram chamados. Mas esta era uma questão delicada, pois se eles escolhiam deixar Portugal se auto declaravam judeus e a família que aqui ficava, poderia ser perseguida.

Em 1536, no reinado de Dom João III, a inquisição foi, formalmente, estabelecida. Os judeus que não se convertiam, eram
queimados na fogueira pelo Tri- bunal do Santo Ofício, instituído pela igreja católica. O último auto-de-fé aconteceu em 1765, mas a inquisição acabou mesmo só em 1821, durante a revolução constitucionalista. De 1496 a 1821, mais de 40
mil judeus foram acusados pela Inquisição Portuguesa. E muitos deles foram forçados ao exílio, emigrando para diversos países, como por exemplo, o Brasil. Mesmo os judeus que eram forçados a se converterem, acabavam deixando o país, em busca de uma vida melhor.

Judeus no Brasil
No Brasil, muitos chegaram em Pernambuco, tanto é que em Recife está a primeira Sinagoga das Américas. Dali alguns saíram em direção a Nova Iorque (EUA) que também tem uma grande comunidade judaica, e outros se espalharam por terras brasileiras.
Em Ouro Preto, Minas Gerais, a comunidade judaica formou uma falsa irmandade para poder pro- fessar sua fé. Eles se reuniam em uma casa que fica ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões, mas depois de alguns anos foram descobertos pelo Bispo de Mariana e proibidos. O casarão, datado de 1772, é atual- mente a República Sinagoga, e
abriga estudantes da Universida- de Federal de Ouro Preto (UFOP).
Em Belo Horizonte, capital do Estado, tem o Museu da Inquisição, fundado em 2012 e, que conta a história de muitas famílias que chegaram ao Brasil, os costu- mes e as tradições do judaísmo. Um espaço muito interessante e pouco conhecido pelos mineiros. A entrada custa R$ 12.
Em 2015, como uma forma de compensação para os familiares dos judeus expulsos na inquisição, o governo de Portugal criou uma lei que concede a cidadania portuguesa para os descendentes dos judeus sefarditas. E é aí que entra o trabalho da Comunidade Israelita de Lisboa.

Após a visita à Sinagoga, Suely e o jornalista Antônio Claret Guerra ofereceram um almoço no Restaurante Casa dos Passarinhos, na Rua Silva Carvalho, 195 (Lisboa), com um vinho português do Douro, Papa Figos, ao casal de jornalistas Luana Bastos e Marden Couto

Sinagoga Shaare Tikvah
Um dos locais mais representativos para a Comunidade Israelita de Lisboa é a Sinagoga Shaare Tikvah (Portas da Esperança),
onde eles fazem os serviços religiosos. Durante as celebrações, só quem faz parte da comunidade ou é convidado por um membro, pode entrar. Mas as terças e quintas acontecem visitas guiadas, abertas ao público, e claro, não poderíamos deixar de ir.
A fachada da Sinagoga não fica diretamente para a rua, pois em 1904, quando ela foi construída não foi permitido, somente templos católicos podiam se posicionar assim. Mas o grande portão branco, com letras hebraicas em dourado, nos mostrava
que tínhamos chegado ao lugar certo.
Quando passamos pelo portão, demos de cara com a imponente fachada da sinagoga, orientada para Jerusalém, e com um
florido pé de romã, que é considerada pelos judeus a fruta sagrada e simboliza a prosperidade. Logo na entrada está também o Memorial de 100 anos da Sinagoga, com lápides de importantes judeus, que lutaram pela manutenção da comunidade no país.
Para entrar, o Marden teve que colocar o quipá (chapéu típico de judeu), o que nos fez sentir parte integrante da comunidade. A guia nos conduziu pelos corredores que levam a arca sagrada e nos sentamos para ouvir a história que contei aí em cima.

Foi a primeira vez que entramos em uma sinagoga e ficamos encantados. Felpudos tapetes azuis forram o chão e enormes
colunas de pedra sobem até as galerias. Os suntuosos bancos de madeira marrom escuro são posicionados de três maneiras
diferentes, todos virados para o púlpito, e uma plaquinha de metal, em cada um deles, revela o nome de quem sempre se
senta ali. São três andares, e durante as celebrações, na parte debaixo ficam os homens e e em cima as mulheres, numa espécie de camarote. Uma curiosidade é que existe um lugar específico para quem está de luto se sentar, no fundo esquerdo da sinagoga.