Gerente de Experiências e Competitividade Internacional da Embratur, Monica Eliza Samia, fala sobre a importância da divulgação de festejos como Carnaval, São João e Parintins para valorizar a cultura do nosso país no exterior e atrair viajantes estrangeiros ao nosso país
Música, dança, gastronomia e muita alegria em diversas épocas do ano. As festas populares brasileiras têm o poder de unir tudo isso e de valorizar a diversidade de um povo que conhece e respeita a sua origem. Seja em fevereiro no Carnaval ou em junho nas Festas de São João, o Brasil respira cultura através dos festejos que, além de movimentar as comunidades social e economicamente, também possuem um grande potencial turístico internacional.
É com esse olhar que a Embratur está trabalhando na promoção das festas populares brasileiras no exterior. É o que explica a gerente de Experiências e Competitividade Internacional da Agência, Monica Eliza Samia. Ela detalha o atual perfil do turista estrangeiro que busca por essas experiências, e as ações que a Embratur já está colocando em prática para promover nosso calendário de festas populares no exterior, convidando o mundo a vivenciar de perto essas expressões tão autênticas de nossa cultura.
Confira abaixo:
Mônica, explica para a gente qual é a importância das festas populares na cultura brasileira?
Os festejos têm a importância de conectar as pessoas, de trazer as pessoas para as suas raízes, para a sua cultura. Essas festas, como o São João, espelham isso. É o que a gente tem de mais original, de mais autêntico em cada uma das regiões, e é um jeito de manter a nossa cultura viva. O Brasil é muito grande. A gente tem muitos estados, muitas regiões e muitas diferenças. E, em cada uma das nossas regiões, há uma característica que é própria. Então, o turismo precisa valorizar e se conectar com tudo isso.
E como fazer essa conexão entre turismo internacional e festejos populares?
Estamos começando a nos conectar com toda a nossa diversidade, com todas as experiências que a gente tem dentro do nosso território. A gente se conecta porque, hoje, o turista estrangeiro não vem mais ao Brasil para fazer uma viagem panorâmica. Ele quer mergulhar naquela cultura, quer entender aquela gente, aquela gastronomia, aquela paisagem. Ele quer entender aquilo de um jeito muito mais profundo. E, mais do que entender, ele quer participar. Então, quando a gente fala de experiência turística, é no sentido de trazer esse visitante para vivenciar a nossa cultura e a nossa natureza não como um espectador, mas como um ator. A gente quer trazer o turista para dentro, para ele interagir, para ele conhecer as pessoas, para ele conhecer o nosso jeito de viver. E as nossas festas tem o poder de fazer tudo isso e muito mais.
Como a Embratur está trabalhando na promoção do turismo internacional com foco nas festas populares?
Aqui no Brasil, a gente tem uma potência. A gente tem uma oportunidade de ouro de não só entender o que existe, mas de valorizar e de mostrar essa nossa cultura para o mundo com orgulho. Então, quando a gente olha para as festas populares, entendemos que é uma oportunidade não só de valorizar, mas de promover, porque é um grande valor que a gente tem para o nosso turismo. Com base nesse posicionamento, nós começamos o ano de 2023 promovendo internacionalmente o Carnaval e agora, em junho e julho, fizemos duas famtours, que são viagens de familiarização que fazemos em parceria com o Sebrae Nacional, com operadores do turismo sul-americanos. Levamos eles para conhecer os festejos juninos em duas cidades que são ícones disso, que é Campina Grande (PB) e Caruaru (PE), e para vivenciar o Festival de Parintins (AM), que é de uma exuberância maravilhosa, no meio da Amazônia. Recentemente, também em uma dessas viagens com operadores, conseguimos mostrar a eles o Bumba Meu Boi, que é uma das manifestações culturais mais tradicionais do Maranhão. E, agora, a Embratur está levando cinco jornalistas franceses para o Festival de Ópera Serra da Capivara (PI), que é uma coisa deslumbrante, imagina, uma ópera que acontece em um lugar onde a gente se conecta com a raiz dos seres humanos. É isso que a gente quer: identificar o que é que valoriza nossa cultura, o que é que a gente tem, porque esses festejos não acontecem em nenhum outro lugar do mundo. Acontecem apenas aqui, no Brasil.
Essas festas já fazem parte da cultura do nosso país, estão internamente consolidadas. Como é o cenário no exterior e como é trabalhar essa promoção do turismo lá fora?
O Carnaval é uma festa que já está mais do que consolidada, mas outras festas, nem tanto. Por isso, começamos justamente a trabalhar com países que são estratégicos para a gente, seja da América Latina, seja da Europa, ou dos Estados Unidos, trazendo essas pessoas para que elas tenham a oportunidade de conhecer esse nosso lado B, digamos assim, que ainda não era tão evidenciado. A gente tem aproveitado as ferramentas que já existem, que são antigas, mas tentando jogar luz para as oportunidades que a gente tem. E aí, aos poucos, a gente começa a promover esse novo olhar para o Brasil. Esse novo olhar tem a ver com esta gestão do presidente Marcelo Freixo, que é focada em trazer a inclusão, a diversidade, a sustentabilidade, a nossa cultura e o nosso povo para o centro. E isso está conectado com uma parte maior, que é como é que a gente quer se posicionar para o mundo e o que a gente quer gerar para o Brasil. Para a gente se posicionar para o mundo, a gente precisa levar os nossos valores. A gente não quer vender commodity lá fora, a gente quer vender valor e o nosso valor está atrelado a todos esses outros valores que estão aqui dentro.
Então o objetivo da Embratur é levar esses valores de sustentabilidade e valorização da diversidade lá fora para tentar atrair turistas estrangeiros para cá?
A gente quer que o turismo seja solução, como o Freixo sempre diz. Que o turismo seja a solução para levar o nosso respeito pela nossa sociedade, pela nossa diversidade, pela nossa democracia, pelo nosso desenvolvimento. Então, é isso que a gente está buscando. Trazer a cultura para o centro é uma forma da gente trazer evidência, trazer luz para esse aspecto que talvez a gente ainda não tenha trabalhado na potência que a gente pode trabalhar.
Que tipo de retorno vocês tiveram desses operadores de turismo e jornalistas estrangeiros que vivenciaram essas festas populares com a Embratur?
Nós sempre fazemos uma pesquisa com eles que traz números e resultados concretos dessas ações. A pesquisa nos mostra o quanto eles acham que aquele destino está maduro, o quanto foi surpreendente, o quanto está atrelado com valores que a gente quer, o quanto o destino já tem esse padrão de exportação que a gente gostaria de ter. São elementos para nos embasar e até melhorar ações futuras. Agora, durante toda a viagem, a gente sempre recebe feedbacks: é no almoço, é no café da manhã, é no jantar, é no meio da festa, que a gente percebe e capta outras informações que não aparecem no questionário. Vou citar um exemplo: eu acompanhei o grupo de operadores que foi conhecer o Festival de Parintins. A primeira coisa que é chocante e que mostra que a gente está no caminho certo foi: ninguém do grupo tinha ouvido falar da existência de Parintins até então. A outra coisa que eles trouxeram foi que não existe promoção lá fora, por isso que eles nunca ouviram falar em Parintins. Com base nisso, a gente pode pensar em formas de se posicionar estratégica e adequadamente e pensar nos investimentos que estamos fazendo. Muito disso também passa pela preparação do destino para receber esses turistas e, por isso, estamos pensando e trabalhando também em capacitações no mercado turístico para melhorar cada vez mais as experiências dos viajantes.
Nesses depoimentos, os operadores de turismo estrangeiros colocaram o Brasil em uma posição de destaque em relação a outros países. Correto?
Sim, nós perguntamos para os profissionais que foram para Parintins quem eles achavam que eram os principais concorrentes do Brasil no setor turístico. E aí eles me responderam: “olha, a Costa Rica faz um trabalho muito legal e tem uma pegada muito forte com o meio ambiente, com ecoturismo, com aventura. O Peru tem a Amazônia e trabalha muito bem isso de um jeito muito especial”. Mas eu ouvi de mais de um deles que não existe concorrência para aquilo que a gente apresentou por lá. Se a gente melhorar alguns aspectos, a gente pode nadar de braçada, porque não existe outro que ofereça diversidade e a riqueza que a gente foi capaz de oferecer. Não existe outro festival de Parintins, não existe uma combinação de selva com festival de cultura e gastronomia riquíssima, como eles puderam ver. O que existe são oportunidades que não estão sendo exploradas, mas não existe concorrência. E eu acredito piamente nisso.
Quais são os próximos passos, as próximas ações que a Embratur está planejando para explorar todas essas oportunidades que surgem pela cultura local, pelos festejos populares?
Estamos trabalhando e criando estratégias para entender o que é que a gente tem de produto turístico, para quem a gente tem que ofertar e quais são os nossos gargalos, tudo isso para que a Embratur possa ajudar no desenvolvimento do turismo daquela localidade, daquele festejo específico. E esse desenvolvimento também passa pelas secretarias de Turismo locais, do Sebrae, do Ministério do Turismo e de outros players que tenham competência para atuar, porque a parte da Embratur é a promoção internacional do turismo. De nossa parte, podemos levar as nossas experiências lá fora através de capacitações para esse mercado, e estamos estudando a melhor forma de fazer isso e criar uma estratégia que será usada nos próximos anos. Para o segundo semestre de 2023, teremos novas ações voltadas para destinos turísticos como Jalapão, Fernando de Noronha, Foz do Iguaçu e Rio de Janeiro – esses dois últimos, inclusive, teremos um olhar mais apurado para o turismo de negócios e vamos tentar encaixar experiências do Carnaval fora do período tradicional, que é fevereiro. É para que os estrangeiros possam sentir um pouquinho do sabor do que é essa festa e ter vontade de voltar depois, na época de fato. Mas a ideia é que, em todas as ações que façamos, possamos incorporar a cultura, a gastronomia, para que o visitante de fora se sinta parte desse Brasil maravilhoso que a gente conhece bem.
Saiba mais sobre os festejos:
Festival de Parintins: acontece na Ilha de Parintins, no Amazonas, e bebe em uma rivalidade iniciada há quase cem anos, quando dois grandes grupos – os “bois” – começaram a representar nas ruas de Parintins o folclore do boi-bumbá, uma variação do Bumba meu boi do Maranhão, que no Amazonas ganhou características próprias, incorporando as lendas e rituais das etnias indígenas e da cultura popular da Amazônia.
São João de Campina Grande: conhecido como “O Maior São João do Mundo”, oferece uma programação diversificada com shows, concursos de quadrilhas e comidas tradicionais juninas, como canjica, cuscuz, mungunzá, entre outros.
São João de Caruaru: conhecido como “O Maior e Melhor São João do Mundo”, apresenta shows de música regional, apresentações de quadrilhas, feiras de artesanato e também um vasto cardápio de comidas tradicionais com base no milho.
Bumba Meu Boi: é uma das manifestações culturais mais tradicionais e populares do Maranhão. Sua história tem influências indígenas, africanas e portuguesas, o que resultou em uma rica mistura de culturas. A origem está associada a uma lenda folclórica que varia conforme a região e o grupo cultural que a apresenta. A festa é recheada de apresentações teatrais e musicais e acontece principalmente no mês de junho.