Por Alexandre Brandão, Presidente da Skål Internacional Belo Horizonte
20 de novembro de 2024, Dia da Consciência Negra, Minas Gerais viveu um momento histórico de grande simbolismo e emoção. Estive no Palácio da Liberdade para testemunhar a consagração de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), como o primeiro negro a ter seu retrato na prestigiada Sala dos Grandes de Minas. Este reconhecimento é muito mais que uma homenagem a um dos maiores artistas do Barroco mundial. É um gesto de reparação histórica e de exaltação à cultura afro-brasileira, da qual o Aleijadinho é um expoente imortal. Iniciativa do Secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira.
Nascido em Vila Rica, hoje Ouro Preto, Aleijadinho é um ícone que transcende seu tempo e espaço. Filho de Isabel, uma mulher negra, e do português Manoel Francisco Lisboa, o artista enfrentou preconceitos, limitações físicas e sociais, mas jamais renunciou à sua genialidade. Suas obras, como os Doze Profetas de Congonhas e as cenas da Via Sacra, são testemunhos eternos de sua habilidade técnica, sensibilidade artística e fé inabalável.
Ao adentrar a Sala dos Grandes de Minas, senti um orgulho profundo. Cada retrato ali presente conta uma parte da história de nosso estado, e a inclusão de Aleijadinho nesse espaço de honra é um marco na construção de uma memória coletiva mais justa e representativa. A escolha do Dia da Consciência Negra para esta celebração reforça a importância de reconhecer as contribuições de negros e negras na formação da identidade mineira e brasileira.
A cerimônia foi emocionante. O Palácio da Liberdade, repleto de representantes do governo, historiadores, artistas e lideranças da sociedade civil, tornou-se palco de uma verdadeira ode à resistência e ao talento afrodescendente. Durante os discursos, foi impossível não pensar na força simbólica que a figura de Aleijadinho carrega. Ele, que esculpiu com mãos deformadas pela doença, agora esculpe também o imaginário de um Brasil que luta por igualdade e respeito às suas origens.
Como presidente da Skål Internacional Belo Horizonte, movimento que promove o turismo e a cultura como ferramentas de transformação social, vejo no legado de Aleijadinho uma inspiração para o desenvolvimento sustentável do nosso estado. Suas obras não são apenas patrimônio mineiro; são joias do turismo cultural brasileiro, atraindo visitantes do mundo inteiro para destinos como Ouro Preto, Congonhas e Sabará.
A inclusão de seu retrato na Sala dos Grandes de Minas nos convida a refletir sobre como o passado molda nosso presente e inspira nosso futuro. Que esta homenagem seja também um chamado à valorização da cultura negra e à construção de uma sociedade mais inclusiva. Aleijadinho não esculpiu apenas imagens; ele esculpiu sonhos e deixou lições de superação que ecoam até hoje.
Neste Dia da Consciência Negra, celebro não apenas o artista, mas o homem que transformou dor em beleza e se tornou o patrono das artes no Brasil. Que seu exemplo nos inspire a reconhecer e celebrar a diversidade que torna Minas e o Brasil tão únicos.
Alexandre Brandão
Presidente da Skål Internacional Belo Horizonte