Diplomacia e Turismo

As “terras raras” do Afeganistão

Colunista Patrícia Coutinho*

O Afeganistão é um país de grande beleza natural e um dos mais pobres do mundo, essencialmente agrário, com um PÌB per capta de pouco mais de 500 dólares, mas com uma localização estratégica nas rotas comerciais e nas disputas políticas da Ásia. Além disso, é rico em minérios estratégicos ainda quase nada explorados.

O reestabelecimento do Talibã no Afeganistão marca uma nova etapa de uma história marcada por guerras religiosas e pelo domínio de diversos povos desde a Antiguidade, o que têm mantido grande parte da população em uma realidade quase que medieval.

Os primeiros a se estabelecerem na região foram os persas, mas foi, a partir do século VII, que os árabes introduziram a religião islâmica no país. Os mongóis passaram a controlar a região no século XIII, mas o país tornou-se oficialmente um Estado sob o rei Ahmed Shah Durrani em 1747.

Entre os anos de 1887 e 1919, como resultado de uma disputa entre a Rússia e Inglaterra, o Afeganistão tornou-se um protetorado inglês. Mesmo após a independência ao final desse período, entre abril de 1978 e 1989, o país esteve sob o domínio dos soviéticos, adotando o seu sistema político-econômico.

A conjuntura se transformou a partir do domínio do Talibã, que se estendeu de 1996 a 2001, ano que marca a invasão estadunidense na chamada “guerra contra o terror” em resposta aos ataques de 11 de setembro.

Um lento processo de reestruturação se iniciou em 2002, e, dois anos mais tarde, o país elegeu o seu primeiro presidente mediante o voto popular.

Entretanto, com o “momento Saigon de Biden” e a retomada do poder pelos Talibãs, tanto o viés humano quanto o viés econômico vieram à tona.

Segundo a ONU “o Afeganistão está prestes a testemunhar o maior número de mortes documentadas de civis em um único ano desde que a contagem da ONU foi iniciada” disse a organização em nota. Países também esperam um êxodo de refugiados em grandes proporções, mas quem poderá recebê-los?

Já no viés econômico, com a tomada do poder, o Talibã abocanha as “terras raras” afegãs, que podem valer até 3 trilhões de dólares e possuem elementos como alumínio, ouro, prata, zinco, mercúrio, lítio e podem ser usados em tudo, desde eletrônicos até satélites.

Um país com solo rico e uma população miserável, oprimida e em fuga… vocês já viram “terras raras” parecidas por aí?

Patrícia Coutinho é advogada, empresária de turismo, ex-presidente da ABIH-Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (MG) e ex-diretora de Relações Internacionais da ABIH Nacional