Doutora em Engenharia Ambiental e docente do UniBH, Elizabeth Ibrahim destaca que a educação coletiva sobre produção e descarte de lixo é o melhor caminho para evitar a sobrecarga de aterros e danos ao meio ambiente
Belo Horizonte sustenta hoje um dos maiores carnavais de rua do país. Em 2024, 5,5 milhões de foliões foram às ruas da capital mineira em 5 dias de muita festa e alegria. Mas passadas as celebrações, é possível saber quanto lixo foi produzido num espaço tão curto de tempo? A resposta é: “sim”. E para onde ele vai? Esta já é uma resposta mais complexa de ser respondida.
Menos de 2% do lixo produzido no Brasil é reciclado. No Carnaval, não seria diferente, período em que muitas garrafas de plástico e latinhas são descartadas diariamente. Para piorar, nem sempre elas têm a destinação correta. De acordo com a Política Nacional de Gestão de Resíduos, o descarte de rejeitos em aterros sanitários deve ser a última opção para o lixo gerado, que deve passar prioritariamente pela reutilização, reciclagem ou tratamento.
Para a doutora em Engenharia Ambiental e docente do UniBH, Elizabeth Ibrahim, a educação coletiva sobre a produção e descarte de lixo é o melhor caminho para melhores possibilidades de destinação: “Temos que aliar alternativas sustentáveis a ações eficazes; como por exemplo, a coleta seletiva por meio da segregação e posterior direcionamento dos resíduos para reciclagem, tais como, latinhas, vidros, plásticos, papéis, gerados em grande volume neste período de carnaval. Esta ação, além de ser eficiente, gera renda para outras pessoas, pois existem os catadores de recicláveis autônomos e as empresas que fazem a gestão ambiental de toda a cadeia da economia circular destes matérias recicláveis. Nestes locais, não só se faz a gestão dos materiais, como também se utiliza de tecnologia para transformar resíduos orgânicos em composto orgânico.”, conta.
Ela destaca que a produção de lixo em massa está diretamente associada à preservação de espécies da fauna, da flora, e eventos climáticos extremos: “significa que todo material descartado e os resíduos orgânicos devem voltar para a cadeia produtiva, evitando assim o descarte inadequado, preservando os recursos hídricos, fauna e flora, bem como diminuindo emissões de CO2 para a atmosfera – uma vez que esse lixo deixa de parar no solo ou ser desaguado nas nossas bacias”, afirma.
Conforme apontam os dados da Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte, foram coletadas 691 toneladas de resíduos nas áreas dos desfiles dos blocos, ao longo dos dias de carnaval. A limpeza das vias mobilizou em média cerca de 1.400 garis por dia, que atuaram antes da passagem dos blocos, durante os desfiles e depois da dispersão dos foliões.
Vale destacar que o balanço total – contemplando o trabalho das cooperativas em todas as áreas da capital – ainda está sendo produzido, o que aumentará ainda de forma sensível esses números. Todo o lixo que é produzido no carnaval, com exceção do que é recolhido pelos catadores de materiais recicláveis, é encaminhado para o aterro sanitário. Não há reaproveitamento desse resíduo.
Confira abaixo a linha de prioridades sobre geração e descarte de lixo, preconizada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos:
- Não-geração – A prioridade deve ser não gerar resíduos sólidos no evento;
- Redução – Caso não seja possível zerar a produção de lixo, reduzir ao máximo a geração de resíduos. Um exemplo deste ponto pode ser a utilização de copos reutilizáveis;
- Reutilização – Reutilizar o resíduo gerado em novos processos, como o caso das garrafas retornáveis;
- Reciclagem – Por meio da correta separação dos resíduos, incentivada durante os grandes eventos, deve ser priorizada a reciclagem dos materiais;
- Tratamento – Coleta e armazenamento adequado dos resíduos, promovendo a proteção da saúde pública com a prevenção de ambientes causadores de doenças;
- Disposição Final – transbordo, transporte e destinação final ambientalmente adequada, considerando a participação de cooperativas de catadores de materiais recicláveis, preferencialmente.