Escritor Olavo Romano é celebrado no Letra em Cena
Um verdadeiro contador e compilador de histórias, lido por Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, estudantes, vestibulandos e inúmeros leitores pelo Brasil afora, o escritor Olavo Romano (1938-2023) é o homenageado do próximo Letra em Cena, dia 8 de outubro, às 19h, na Biblioteca do Centro Cultural Unimed-BH Minas. Nascido em Morro do Ferro, distrito de Oliveira (MG), Olavo foi um extraordinário observador e propagador de histórias da gente mineira. Para a prof. Ivete Walty, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, convidada para discorrer sobre a obra do escritor, Olavo foi um mestre na arte de narrar.
“Assim como as aranhas tecem teias, contamos histórias. Olavo Romano, conhecendo o potencial das pessoas comuns, recolhe suas narrativas e as registra em livros, partilhando-as com outros segmentos sociais”, conta a pesquisadora. Com isso, para ela, Olavo contribui na ampliação da memória popular, no registro de costumes, valores sociais, políticos e religiosos. Assim, ele faz também História e torna-se “parte vital da cena literária brasileira”. Além da palestra dedicada ao escritor, a homenagem vai reunir escritores, amigos e parentes do escritor em leituras de trechos selecionados de sua obra.
Na roça, no mundo
Olavo Romano dizia de sua família mineira: “andávamos de pé no chão e nos vestíamos modestamente. Mas tínhamos o horizonte dentro da gente”. O autor dedicou sua vida e obra à expansão deste horizonte. Seu livro de estreia, o seminal Casos de Minas (1982), falava sobre o Brasil rural onde o autor nasceu, registrando o jeito mineiro de ser. Em vida, publicou mais de 20 livros e participou de diversas antologias. Foi presidente emérito da Academia Mineira de Letras e co-fundador da editora Caravana, responsável pela reedição de várias de suas obras.
Sua gestão como presidente da AML, cargo que assumiu em 2013, abriu a instituição à sociedade. “A gente pode dizer que a história da Academia é outra depois do Olavo”, diz o atual presidente da AML, Jachynto Lins Brandão. “No período em que ele foi presidente, houve a grande guinada da Academia em direção ao que fazemos hoje nessa questão de abertura para a sociedade. Na verdade, só estamos continuando o trabalho do Olavo”, emendou. Nessa perspectiva, a palestrante da noite recorda um caso exemplar. “Ele promoveu, naquele espaço letrado, o lançamento do livro Divã de papel, memórias da manicure Maria de Jesus da Silva (Zuza). Se hoje a Academia recebeu com entusiasmo Ailton Krenak e Conceição Evaristo é pela continuação do processo de inclusão multicultural por ele iniciado”.
Memória e invenção
Ao falar da obra de Olavo Romano, questões como a confiabilidade da memória surgem à tona. Para Ivete Walcy, a possível veracidade de seus relatos é, simplesmente, desimportante. “Misturamos fatos e ficções mesmo em nosso dia a dia, como o fazem os memorialistas e biógrafos. A nossa história está sempre em transformação. Olavo era como um catador de histórias e, assim como os diversos pescadores, ora aumentava o tamanho do peixe”, conta. Para a pesquisadora, a sua literatura se sobrepõe a essas questões: “Nas histórias de Olavo, reencontramos pessoas queridas ao lado de personagens fantásticos, assombrações, além de figuras políticas e religiosas. É tudo vida vivida, vivências humanas sempre recontadas”.
Ao contar histórias com habilidade e bom humor, Olavo permite momentos únicos ao leitor. Seus contos, “permeados por imagens ligadas aos cinco sentidos”, trazem “a história de um povo em suas várias gerações, sua maneira de ser, sua contribuição na construção de um país marcado pela diversidade e pelas diferenças sociais, nem sempre positivas”, afirma a professora.
Homem múltiplo
Olavo Romano, além de escritor, foi advogado e procurador do Estado. Ele também se dedicou à música, desenvolvendo com o compositor Roberto Corrêa o projeto “Causo, viola e cachaça”. Foi parceiro de Pereira da Viola, Chico Lobo, Lu e Celinha, apresentando-se em shows e saraus. Por muito tempo, participou do quadro “Prosa arrumada”, no programa Arrumação, de Saulo Laranjeira, na Rede Minas. E colaborou com diversos órgãos de imprensa e comunicação, como o Estado de Minas, Jornal de Casa, Globo Rural e IstoÉ.
Para o leitor que não está familiarizado com a obra do homenageado, Ivete Walty deixa um recado: “Ler Olavo é conviver com seu sorriso largo e seu olhar aberto, é partilhar a sabedoria de um intelectual que caminha ao lado das pessoas, sem pretensão de dirigi-las ou comandá-las. Precisa haver mais razões? Bora começar a ler”.
Sobre o Letra em Cena
O Letra em Cena é uma celebração à língua portuguesa, homenageando poetas, ficcionistas, contistas e cronistas, brasileiros ou não. Nomes como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Eça de Queiroz e Cecília Meireles já foram homenageados em palestras com renomados escritores e professores. O evento conta com sessões na Biblioteca e no Teatro. “O Letra em Cena é um projeto não acadêmico, gratuito, que oferece uma experiência muito gratificante de encontro dos leitores com autores e livros que fazem parte de sua memória afetiva”, afirma o curador José Eduardo Gonçalves.
Serviço Letra em Cena – Olavo Romano Palestrante: Ivete Walty Leitura de textos: convidados especiais Data: 8/10 (terça-feira)Horário: 19h Local: Biblioteca do Centro Cultural Unimed-BH Minas Entrada Franca | Inscrições pelo Sympla. |
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