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Como casais homoafetivos podem ter filhos?

Reprodução assistida oferece soluções seguras e efetivas para tornar possível sonho de muitas famílias diversas

Foto Família Lucas Veloso e Jairo Antunes
Arquivo Pessoal

Nos últimos anos, os avanços legais, científicos e sociais têm proporcionado novas possibilidades para casais homoafetivos que desejam ter filhos. Uma das alternativas é a adoção. Porém, além dos entraves burocráticos, adotar uma criança costuma envolver uma espera que pode, em alguns casos, limitar a concretização desse sonho tão profundo para famílias diversas. Nesse contexto, entram em cena as técnicas de reprodução humana. Mas quais são elas? Como são feitos os tratamentos? Quais desafios envolvidos para casais homoafetivos?

Há dois tratamentos de reprodução assistida regulamentados no país hoje. O primeiro é a Fertilização In Vitro (FIV), normalmente indicado para casais homoafetivos masculinos. O processo envolve a escolha de uma mulher que possa gestar a criança voluntariamente, como barriga solidária. Esse processo envolve a utilização de óvulos doados e a implantação dos embriões no útero de uma voluntária, escolhida pelo casal. Regulamentada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), a prática não pode envolver transação comercial. Se a pessoa que ceder o útero não for parente de nenhum dos parceiros, é necessária uma aprovação especial.

O ginecologista e especialista em reprodução humana da Clínica Origen, Rodrigo Hurtado, assegura que o FIV é um processo bastante seguro, mas outros aspectos devem ser observados e conduzidos pelo próprio casal. “A escolha do doador de óvulos e a participação de um dos parceiros como doador de sêmen é uma decisão importante, que deve ser tomada com cuidado, considerando todos os aspectos legais e emocionais envolvidos”, esclarece o médico, que também é professor na Faculdade de Medicina da UFMG.

Outra opção de reprodução assistida é a inseminação artificial, normalmente adotada para casais homoafetivos femininos. Nesse caso há a opção de recorrer à inseminação artificial utilizando sêmen de doador anônimo. Os óvulos de quaisquer das duas parceiras podem ser fertilizados e os embriões resultantes podem ser transferidos para o útero de uma das duas mães, desde que as trompas e a função ovariana da gestante escolhida estejam preservadas. Esse método permite que ambas participem biologicamente no processo de concepção.

A psicóloga da Clínica Origen, Paola Braz, orienta que, em ambos os casos, o acompanhamento psicológico é crucial. Além de trabalhar as emoções envolvidas e inerentes ao tratamento, ele pode ajudar a preparar a família para as responsabilidades futuras. “Sabemos que o preconceito ainda é uma realidade para as novas configurações familiares. É importante que os casais estejam preparados para lidar com os mais diversos cenários possíveis de situações que podem ou não apontar discriminação e, assim, buscar estratégias para proteger e educar seus filhos para a vida e o contexto social. Importante ressaltar que a sociedade também está em movimento. Deste modo, teremos muitas adaptações sociais à diante”, ressalta Paola, que se dedica ao acompanhamento de casais homoafetivos em tratamento.

Resiliência em nome do amor

Juntos há 17 anos, o casal Lucas Veloso e Jairo Antunes vivem há quatro anos o sonho da paternidade, com o nascimento dos gêmeos João e Aurora. Eles foram concebidos via FIV, na Clínica Origen, pela barriga solidária da prima do Lucas. O tratamento foi muito bem-sucedido e, com a gravidez confirmada, os três partiram para a etapa seguinte, que era encontrar um bom obstetra para iniciar o acompanhamento neonatal. Mas entre a gestação e o parto, acompanhados bem de perto por ambos, os pais enfrentaram dificuldades por conta de desinformação e preconceito.

Já na primeira consulta pré-Natal, o casal acompanhou a sobrinha, mas, nesse dia e nas consultas seguintes, os três não sentiram o acolhimento que esperavam. Pela postura do obstetra, a própria gestante pediu, cerca de seis meses depois, para seguir o tratamento com outra profissional. Foi quando tiveram uma surpresa desagradável. Ao avaliar os resultados dos exames feitos até aquele momento, a nova médica informou que a gestante tinha testado positivo para toxoplasmose, uma doença que, uma vez detectada, deve ser tratada imediatamente sob pena de risco de morte ou deformação do feto.

“O médico não nos alertou sobre o resultado dos exames e as providências necessárias não foram tomadas. Isso acabou com a gente. Foram dias sem dormir. Chorava muito, pensando que os meus filhos poderiam estar sofrendo e que isso poderia ter sido evitado. Eu me sentia impotente. Tivemos, então, que autorizar que nossa sobrinha se submetesse a um exame extremamente invasivo, com riscos de perda dos bebês, para constatar se os fetos tiveram ou não contato com o protozoário que causa a toxoplasmose. Para nosso alívio, correu tudo bem no exame e o resultado foi negativo. Estava tudo bem com nossos filhos. Porém, foi um sofrimento desnecessário”, desabafa.

Foto Família Lucas Veloso e Jairo Antunes
Arquivo Pessoal

No hospital, também enfrentaram algumas dificuldades para acompanhar o parto e os bebês, após o nascimento. “De início, apenas um dos pais seria autorizado a assistir ao parto. Tivemos que chamar a médica para nos liberar na portaria. Nascidas as crianças, foi permitido apenas um acompanhante para a gestante e, de novo, tivemos que conversar com a direção do hospital”, lembra.  Após o nascimento, uma das crianças teve uma intercorrência e precisou ficar internada. Neste período, Lucas e Jairo passaram pelo desgaste de explicar, diariamente, todo o contexto para conseguirem ficar com seu filho no hospital.

Além desses desafios, Lucas destaca que “ter parte de seu coração batendo no corpo de outra pessoa foi um desafio emocional muito grande”. Hoje eles entendem que todas essas adversidades se diluem diante da presença das crianças. “Eu sempre quis ter filhos, porque acho que a vida ganha sentido”, confessa. “Nossos filhos falam com muito orgulho que têm dois papais. Percebo que eles se sentem completos, querem nós dois o tempo todo perto deles e enxergam em nós a figura paterna e a figura materna. Então, transitamos nesses papéis”, diz.

Sobre a Origen

Fundada há mais de 20 anos pelos médicos Marcos Sampaio e Selmo Geber, a Clínica Origen de Medicina Reprodutiva nasceu com o objetivo de centralizar a atenção médica, a disponibilidade da tecnologia e o acolhimento humano no bem-estar e respeito a seus pacientes, auxiliando-os na realização do sonho da maternidade e paternidade.