O presidente nacional do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Sydney Limeira Sanches, participou como relator do painel sobre Direito e cultura, que atraiu grande público na 24ª Conferência Nacional da Advocacia, nesta terça-feira (28/11), em Belo Horizonte (MG). Ao final do painel, que teve os jornalistas Pedro Bial e Merval Pereira como atrações, Sanches elogiou os palestrantes e afirmou: “O momento é de tentar resgatar, por meio da literatura, um pouco da sanidade perdida com as redes sociais”.
Para Sanches, “a vida de resultados imediatos vem alimentando os problemas que estamos enfrentando nas plataformas digitais”. Ele lembrou que “a imprensa tradicional está submetida a regulamentações, mas as plataformas digitais não. O advogado José Roberto de Castro Neves presidiu a mesa: “Destaco a qualidade dos debatedores que vão nos dar uma ideia muito clara de que o Direito não anda sem a cultura”. O representante institucional do IAB no Maranhão, Daniel Blume, secretariou a mesa.
O comunicador Pedro Bial mostrou que jornalistas e advogados têm pontos em comum. “Ambos falamos pelo povo. Outro ponto: as carreiras atraem jovens cheios do idealismo de querer mudar o mundo. É verdade que nem sempre isso dura para sempre”, ironizou. Bial fez ainda uma defesa acalorada da democracia dizendo que só ela pode garantir a liberdade de expressão e de pensamento. “São temas caros a advogados e jornalistas’, apontou.
Merval Pereira, jornalista e presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), falou sobre liberdades, cultura e democracia. “Não há cultura sem democracia, assim como não há liberdade sem ela. A luta pela manutenção da democracia tem que ser contínua”. Merval contou que a ABL criou um programa para fazer a cultura, por meio da literatura, chegar a todas as classes. “Fizemos acordo com o governo e estamos colocando bibliotecas em conjuntos populares das periferias para levar mais cultura. Nosso programa já abrangia quilombos, aldeias indígenas, presídios e outros locais e agora ficou mais completo”, explicou.
O professor de Direito Tércio Sampaio Ferraz, da Universidade de São Paulo, teceu várias considerações sobre os ritos e rituais cotidianos e de como eles, parte da nossa cultura atual, influenciam o mundo jurídico. Ele disse que “os rituais estão sendo exorcizados nos processos eletrônicos. Eles trazem talvez mais transparência, mas também a desconfiança entre os atores dos julgamentos. É tudo muito frio. Isso terá repercussões no mundo jurídico e os advogados terão de se moldar a elas”.
A desembargadora Andréa Pachá, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), bateu na tecla da importância da literatura. “Advogados deveriam ler muito. Não leem. Não sabem o que perdem”, disse ela, autora de vários livros. “Não concebo alunos de Direito que não leem. Advogados mais literatos são os melhores, porque a literatura busca o humano e proporciona lições valiosas que podem ser aproveitadas nos processos”.
O advogado Pedro Pacífico, criador do Bookster, que tem milhares de seguidores na internet, contou como sua vida mudou a partir do momento em que começou a ler muito e passou a indicar livros para os seus seguidores. “Advogado realmente lê pouca literatura. Eu mesmo era completamente bitolado. Percebi que o advogado não lê, primeiro porque não sabe o que ler. Depois porque, como a maioria dos leitores de hoje, quer leitura de utilidade, que traga resultados imediatos. Daí aposta em livros de autoajuda. Para ele, literatura virou sinônimo de tempo perdido. E não é! Pode-se aprender muito lendo bons livros”, relatou.
Já Judith Martins-Costa, da Academia Brasileira de Letras Jurídicas, outra autora de livros de Direito, conceituou as artes e a literatura como importantes armas da humanidade ao longo dos tempos: “Ler bons autores nos proporciona aprender a ver, a enxergar melhor os processos numa relação direta. Pelo texto literário, nós vemos o que o texto de Direito não nos permite ver”.
Antônio Cláudio Ferreira Netto, diretor jurídico das Organizações Globo, discorreu sobre a liberdade de expressão na era digital. Depois de dizer que o domínio da língua é poder, Antônio Cláudio centrou sua palestra na questão da regulamentação da internet. “O modelo de negócios das plataformas busca o que há de pior em nós. Elas sabem que o ódio cativa e dá lucro. Os algoritmos servem para captar esse ódio e é preciso colocar um fim nisso, por meio da regulamentação”, defendeu.
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