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Dona do Xapuri, Nelsa Trombino continua iluminando Minas Gerais

POR PAULO SOLMUCCI

Ao amanhecer deste 31 de maio, li a tristíssima notícia do falecimento, aos 84 anos, de Nelsa Trombino, em decorrência de causas cardiovasculares. Ela tornou-se de imensa importância para a Abrasel. No ano 2000, havia nos dado uma valiosíssima contribuição para se enraizar o conceito de que cuidar bem dos nossos semelhantes deveria ser o seu ponto central da entidade.   

Saudades de Dona Nelsa, grande amiga do JORNAL MG TURISMO

Portanto, há 23 anos Nelsa Trombino já nos dizia que se pratica esse “zelo do cuidar bem” a partir do relacionamento de face a face, de voz a voz, olho no olho, como ocorre em quaisquer estabelecimentos do setor da alimentação fora do lar. Era uma sugestão condizente com a forma com que cotidianamente se dedicava ao seu Restaurante Xapuri, que fundou em 22 de agosto de 1987, na orla da lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte. 

A gastronomia, já repetia ela, é o veículo das mais saudáveis interações sociais.  É a mais elevada expressão do ato cotidiano do “bem servir, com muito zelo e muita arte”. Este sempre foi o seu propósito de vida, a sua razão de ser.  “O Xapuri é a minha paixão”. Este era o seu mantra, que me foi dito, pela primeira vez, no ano 2000, quando concorri à presidência da seccional mineira da Abrasel. 

A entidade estava dividida em grupos, endividada, desunida e praticamente sem associados. Convidei Nelsa Trombino para fazer parte da chapa. Aceitou, com uma condição: que juntos visitássemos cada um dos associados mineiros.  Assim, clareou-se e alargou-se, de maneira ainda mais intensa, um caminho que se esboçava na organização nacional. Hoje, a Abrasel é reconhecida, no país inteiro, como a entidade empresarial mais ativa e influente na defesa das causas da sociedade brasileira.  

Dona Nelsa a vida toda ligou a gastronomia à cultura nacional, às tradições locais, ao turismo, aos pequenos agricultores, às diversas correntes espirituais que ecumenicamente buscassem com que os filhos da luz fossem, como dizia Martin Luther King, mais determinados e zelosos do que os filhos das trevas. “Faço o possível e o impossível para, por meio da gastronomia, cuidar das gentes e da cultura mineira”, disse a mim e ao Paulo Nonaka (presidente do Conselho Nacional da Abrasel) quando fomos ao Xapuri em 2017.    

O objetivo da ida ao Xapuri foi, além de jantar, transmitir à Dona Nelsa a informação de que circulava em Brasília a ideia de se incluir a gastronomia nas leis federal e estaduais de incentivo à cultura. Tratava-se de uma pauta que, na opinião minha e do Nonaka, deveria ter como um dos símbolos a trajetória de Nelsa Trombino e do Xapuri . No entanto, a crise nacional daquele ano (tanto dos lados político e econômico) acabou impedindo que essa pauta prosperasse. 

O ideário da ligação entre a gastronomia, o turismo e as manifestações culturais têm no Xapuri a imagem de um caleidoscópio-síntese.  As áreas interna e externa do restaurante, cobertas com telhas de barro. Os fogões ardendo nas lenhas crepitantes. As partes externas com as mesas de madeiras cruas, sob caramanchões. As redes estendidas em áreas cobertas, disponíveis aos que queiram usufruir da “siesta”. O trio musical que percorre o ambiente, tocando e cantando canções de raízes rurais. 

É impossível dissociar este cenário à dinâmica, sensível, inteligente e empática imagem da Dona Nelsa, com suas benfazejas causas, a partir do Xapuri. Seus propósitos têm visível sintonia com a sua face, o seu olhar, a sua voz. Tudo muito sincronizado: a gastronomia como plataforma das interações humanas, das manifestações culturais, do turismo. Ela continuará nos servindo como eixo e prumo das nossas ações.  Somos agradecidos a Deus por ter nos enviado Nelsa Trombino ao nosso mundo, ao mundo Abrasel.  Ela continua presente, iluminando nossos destinos, acendendo a fé na vida e a confiança no que virá.  

Sou eu, e somos todos da Abrasel, solidários com a dor da família.  Manifestamos nossa permanente presença e o nosso irrestrito apoio ao chef Flávio, à Fernanda e Fabiana na condução do Xapuri, que continuará como um exemplo de sucesso nacional no setor da alimentação fora do lar.

FOTO ARQUIVO PESSOAL