O escritor mineiro Luiz Fernando Emediato volta a Belo Horizonte 45 anos depois, com três filhos também autores, para lançar seus livros juntos.
Exatamente 45 anos depois de ter se mudado de Belo Horizonte para São Paulo, em 1978, quando tinha 27 anos, para seguir carreira de jornalista que durou apenas mais 12 anos, o escritor mineiro Luiz Fernando Emediato volta a Belo Horizonte, no dia 5 de setembro, para comemorar seus 72 anos e lançar uma edição nova de seu livro “A grande ilusão”, de crônicas e relançar seu primeiro, “Não passarás o Jordão”, autografado pela primeira vez em 1977, na Casa do Jornalista. O lançamento do dia 5 será na Quixote Livraria e Café, na Savassi, com direito a bate-papo, a partir das 18 horas.
Emediato volta com uma surpresa: traz com eles filhos também escritores: Fernanda, 41 anos, autora de 20 livros infantis, Antonio, 18 anos, autor de dois, e Serena, que fará 7 anos no dia 16. Serena acaba de escrever seu primeiro livro infantil, que está sendo musicado pelo compositor mineiro Celso Adolfo Marques.
Luiz Fernando Emediato, que se formou em Comunicação Social na UFMG, em 1976, trabalhou na sucursal mineira do Jornal do Brasil, na Avenida Afonso Pena, 1500, de 1973 (quando ainda era estudante) até 1978, quando se mudou para São Paulo. Antes, havia participado da edição de três revistas literárias mineiras impedidas de circular pela ditadura do general Ernesto Geisel – “Silêncio”, “Circus” e “Inéditos”. Ainda em Belo Horizonte, lançou seu primeiro livro de contos, “Não passarás o Jordão”, o primeiro a contar – com recursos de jornalismo e ficção – a tortura e o assassinato do jornalista Wladimir Herzog e as torturas a uma jovem militante de esquerda, inspirada na mineira Dilma Rousseff, que havia deixado Minas para se integrar ao movimento armado contra a ditadura militar.
Em São Paulo, Emediato publicou mais oito livros, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (por uma reportagem especial chamada “Geração Abandonada”, depois publicada em livro) e o Rey de España, por sua cobertura das guerrilhas na América Central. Trabalhou 10 anos no Estadão, onde criou o Caderno 2, e dois no SBT, onde foi um dos responsáveis pela maior revolução já feita no telejornalismo brasileiro: telejornais apresentados e comentados por jornalistas, coisa impensável naquele tempo.
Em 1990, aos 39 anos, tendo ocupado os principais postos de direção na mídia, deixou a profissão e fundou uma editora, a Geração Editorial, e uma produtora cinematográfica, tornando-se também consultor de políticas públicas, com larga ação nos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, como assessor e presidente de fundos e conselhos.
Sua filha Fernanda Emediato – que escreveu seu primeiro livro, “A menina perdida”, aos 9 anos, numa agenda escolar – começou a trabalhar na editora aos 14 anos e lá ficou até os 40. Ela é empresária, escritora, editora, produtora cultural, produtora editorial, consultora, atriz e professora. Com mais de 27 anos de experiência profissional, ela se destacou em diversas áreas editoriais e culturais. Já publicou mais de 20 obras literárias em língua portuguesa e outros idiomas. Ao longo de sua trajetória, Fernanda Emediato teve suas obras contempladas em programas importantes, como o ProAC de São Paulo o PNLD do MEC. Além disso, ela sempre priorizou a defesa dos direitos das crianças. Desde 2013, visita escolas dentro e fora de São Paulo, levando sua paixão pela literatura e promovendo o acesso à leitura. Fernanda Emediato é uma figura inspiradora, dedicada não apenas à sua carreira como escritora e editora, mas também ao impacto social positivo por meio de suas atividades culturais e ações em prol das crianças.
– Ter a oportunidade de trabalhar com meu pai, em sua editora, desde os 14 anos foi fundamental para que eu pudesse adquirir uma compreensão abrangente de todos os segmentos de uma editora, bem como das diversas trajetórias que um livro pode percorrer. Isso engloba tanto os âmbitos tradicionais de comercialização quanto as vendas direcionadas ao governo, além de me proporcionar conhecimento sobre uma variedade de formatos que um livro pode assumir, incluindo ePUB e audiolivros, entre outros. Com ele também desenvolvi habilidades na edição de livros clássicos, que se tornaram uma das minhas grandes especialidades.
O mesmo aconteceu com Antonio Emediato. Brincando no escritório do pai, antes de ser alfabetizado, aos 6 anos e meio, ditou para ele sua própria história – a de filho de pais separados desde o nascimento. Dois anos depois, alfabetizado, reescreveu ele mesmo o livro, intitulado “Minha família”. Este ano, escreveu e ilustrou – usando inteligência artificial – outro livro intitulado “Letras, Cores e Bichos”. Fez capas e ilustrações para livros da editora do pai.
– A inteligência artificial, quando bem usada, é uma excelente ferramenta para a criação de imagens, de textos e para a educação. É isso que estou estudando intensamente, fazendo online vários cursos em instituições estrangeiras, enquanto penso no que vou ser na vida, pois esse ano eu termino o ensino médio e não quero estudar para ser empregado de ninguém.
E quanto a Serena, a filha de quase 7 anos? Criada no meio de livros, ela os adora, mais que televisão e jogos de celular. Serena gosta de música clássica, de balé, de música francesa, e, ao dançar e cantar, inventou junto com o pai a história de uma menina que queria ser bailarina, mas tinha a perna fina, quase acabou cantora de cantina, mas gravou uma música no Youtube, fez sucesso até na China e foi convidada para fazer parte do…Clube da Esquina. Emediato cuidou de transformar em texto – em versos de oito sílabas, redondilhas – a história de Catarina, que está sendo musicada pelo compositor mineiro Celso Adolfo Marques.
– Eu não sei se vou ser escritora – diz Serena. – Talvez eu seja ilustradora. Ou quem sabe cantora? Sei lá…
No dia 5 de setembro, a partir de 18 horas, na Quixote Livraria e Café, o velho Emediato estará com seus jovens filhos recebendo irmãos, primos, sobrinhos e tios mineiros, além dos amigos do passado e, segundo ele, “quem mais quiser nos dar a honra”. A ideia da comemoração foi da filha Fernanda.
– Meu pai é um ermitão meio autista que vive há 41 anos no meio da mata, na Serra da Cantareira, a maior floresta urbana do mundo, ele e a Serena sozinhos numa casa onde eu também me criei, e achei que poderia ser uma boa ideia tirá-lo de lá. Ele é tão doido que plantou um bosque de cerejeiras e já mandou fazer uma lápide para colocar debaixo de uma delas, onde deveremos espalhar as cinzas dele.
Na lápide está escrito: “Aqui jaz Luiz Fernando Emediato (1951-2051). Enquanto viveu, foi bom”. Ele acha que vai viver 100 anos e está “sem nenhuma pressa para partir”.