Sabemos que a ABRAJET – Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo apresentou um projeto de Apoio Financeiro para um Press Trip aos Açores em setembro de 2025. Como está o trâmite dessa candidatura do Brasil e como são as perspectivas para a concessão do apoio pretendido?
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Aqui está um projeto de reconhecido interesse para estreitar a distância, geográfica e temporal, entre os pequenos Açores e o imenso Brasil. A comunicação social pode dar e tem dado um contributo determinante para que os Açores sejam cada vez mais conhecidos e apreciados no Brasil. Por exemplo, assim aconteceu com a recente deslocação do dinâmico editor deste mesmo Jornal MG Turismo, António Claret Guerra, à ilha açoriana de São Miguel, devidamente testemunhada na sua edição de dezembro. Nesta sequência, uma “press trip” da ABRAJET poderá complementar e alargar esse esforço, mutuamente vantajoso, de promover os Açores no Brasil. A sua candidatura encontra-se agora em apreciação formal pela comissão técnica legalmente constituída para o efeito, a par de muitas outras intenções que nos foram oportunamente submetidas, mas espero que seja possível “levar este barco a bom porto”.
Como o Sr. define as principais atividades de seu importante cargo de Diretor Regional das Comunidades dos Açores?
A Direção Regional das Comunidades do Governo dos Açores, integrada na Secretaria Regional dos Assuntos Parlamentares e Comunidades, tem duas importantes missões estratégicas: por um lado, a devida valorização dos açorianos e açordescendentes residentes no exterior da Região e, por outro, a plena integração dos cidadãos estrangeiros que escolhem as nossas ilhas para viver.
A verdade é que os Açores só ficam verdadeiramente completos com a sua “décima ilha”, até porque somos apenas 240.000 habitantes nas nove ilhas, mas seremos certamente mais de três milhões de açorianos e seus descendentes na nossa diáspora – especialmente no Brasil, desde o Rio Grande do Sul até ao Maranhão, para onde emigrámos há mais de 400 anos, e na América do Norte, com importantes comunidades nos Estados Unidos, no Canadá e na Bermuda.
Mas se sempre fomos um “cais de partida”, agora também somos um “porto de abrigo”, graças à progressiva melhoria das condições de vida na Região Autónoma dos Açores, recebendo um número sempre crescente de cidadãos estrangeiros – mais de 6.000 imigrantes de 95 países residem em todos os 19 municípios açorianos, com destaque para os brasileiros que já representam mais de 20% desse total. São todos bem-vindos!
Como se encontra o projeto de instalação de uma Casa dos Açores em Minas Gerais, o que já é um orgulho para nosso Estado em especialmente para a Capital, Belo Horizonte?
As Casas dos Açores são “embaixadas” da identidade açoriana nas diferentes geografias da nossa diáspora. Existem, atualmente, 18 Casas dos Açores em Portugal, Brasil, Canadá, Estados Unidos, Bermuda e Uruguai. Só no Brasil temos sete: Rio de Janeiro (1952), São Paulo (1980), Bahia (1980), Santa Catarina (1999), Rio Grande do Sul (2003), Maranhão (2019) e Espírito Santo (2022).
O Estado de Minas Gerais regista também um contributo importante dos açorianos no seu povoamento. Uma marca concreta e consequente da presença açoriana em Minas Gerais ficou para a nossa história comum, há 300 anos, com as chamadas “Três Ilhoas”. As Três Ilhoas eram três irmãs açorianas que emigraram para o Brasil, onde aportaram por volta de 1723, fixando residência em Minas Gerais, tornando-se troncos de antigas, tradicionais e importantes famílias. Eram naturais da freguesia de Nossa Senhora das Angústias, na então vila da Horta, na Ilha do Faial, no arquipélago dos Açores. Uma era Antónia da Graça, nascida em 1687, que veio para São João del Rei e teve quatro filhos, dando origem, entre outros, aos Junqueiras e aos Meireles. A segunda era Júlia Maria da Caridade, nascida em 1707, que veio também para São João del Rei e aqui teve 14 filhos. Deu origem, entre outros, aos Garcias, Carvalhos, Nogueiras, Vilelas, Monteiros, Reis e Figueiredos. A terceira era Helena Maria de Jesus, nascida em 1710, que se estabeleceu em Prados, teve 15 filhos e deu origem aos Resendes.
Assim, muitas das famílias de Belo Horizonte e, em geral, de Minas Gerais, terão essa origem açoriana de três séculos. É importante fazermos agora esse resgate – não apenas por causa do passado, mas também, e principalmente, por causa do futuro. O nosso desafio é colocar Minas Gerais no mapa açoriano do Brasil, através da próxima criação de uma Casa dos Açores em Belo Horizonte. Uma associação de açordescendentes e amigos dos Açores que honre o nosso passado comum e que desenvolva novos caminhos de cooperação e intercâmbio entre o estado mineiro e as ilhas açorianas, graças à meritória iniciativa do dinâmico advogado Cláudio Motta – presidente do Conselho Empresarial de Relações Internacionais da Associação Comercial e Empresarial de Minas.
Como se dá o apoio a atividades desenvolvidas nas áreas das comunidades emigradas e regressadas aos Açores em todos os continentes?
A Direção Regional das Comunidades promove diretamente diferentes iniciativas nesse sentido e apoia também a atividade desenvolvida por variadas entidades. Por um lado, mantemos protocolos anuais de cooperação financeira com entidades parceiras, nomeadamente, Casas dos Açores e outras organizações de caráter sócio-cultural, designadamente, no Brasil. Por outro lado, comparticipamos a implementação de projetos de cooperação bilateral que se candidatam ao sistema de apoio legalmente instituído. Também aqui é de destacar o especial dinamismo dos açordescendentes do Brasil, que todos os anos nos apresentam interessantes projetos de resgate e de dinamização das suas raízes identitárias.