Especialista em Educação Médica Continuada, Dr. Faustino Júnior, explica que a avaliação nacional unificada visa padronizar critérios, elevar o nível dos cursos e redefinir a relação entre graduação e residência médica

O Ministério da Educação (MEC) deu início a uma das mudanças mais significativas da última década na formação médica brasileira. Com o lançamento do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed), anunciado nesta quarta-feira (23), o governo federal cria um novo instrumento de avaliação que será aplicado anualmente a partir de 2025 a todos os estudantes concluintes dos cursos de Medicina no país.
O exame, que será conduzido pelo Inep em parceria com a Ebserh, marca o início de uma padronização inédita na análise de desempenho das faculdades de Medicina — tanto públicas quanto privadas. A avaliação contará com 100 questões de múltipla escolha, abordando áreas como Clínica Médica, Cirurgia Geral, Pediatria, Saúde Coletiva, Saúde Mental e Medicina da Família.
“O Enamed é o elo que faltava entre a graduação e a residência médica, hoje considerada o padrão ouro da formação profissional. Estamos diante de uma reformulação estrutural”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao apresentar a iniciativa.
Na avaliação do Dr. Faustino Júnior, advogado, investidor e CEO do FGMED — plataforma líder em educação médica continuada na América Latina — o Enamed inaugura uma nova era de responsabilização acadêmica.
“Estamos falando de um instrumento que pode, pela primeira vez, tornar a avaliação dos cursos de Medicina um processo técnico, comparável e transparente. O setor carecia de um choque de realidade, e ele chegou com força”, afirmou Faustino.
Segundo ele, o exame representa mais do que uma prova: é a consolidação de um sistema que conecta ensino e desempenho, e que terá reflexos diretos sobre a reputação das instituições, a alocação de recursos públicos e a entrada de novos profissionais nos programas de residência.
“O Enamed inaugura um novo tipo de pressão competitiva no ensino superior: ou as instituições entregam qualidade ou perderão relevância. É uma régua que diferencia sobrevivência de excelência”, destacou o executivo.
Faustino, que também é fundador do FGMED — a maior EdTech de educação médica continuada da América Latina — reforça que as instituições de ensino devem enxergar o Enamed não apenas como uma exigência, mas como uma oportunidade estratégica.
“Sugiro que faculdades, inclusive as que integram a nossa rede no FGMED, usem o resultado desse exame como critério de autoavaliação e aprimoramento contínuo dos currículos. Com mais de 100 especialidades e subespecialidades em nosso ecossistema de formação, temos plenas condições de complementar a jornada acadêmica, alinhando-a à cultura de aprovação que agora será exigida anualmente para todos os formandos no país”, afirmou.
A medida chega em um momento de alerta. O último levantamento do Enade 2023, também realizado pelo Inep, mostrou que um em cada cinco cursos de Medicina no país não atingiu o desempenho mínimo esperado. Apenas seis cursos obtiveram nota máxima no Conceito Preliminar de Curso (CPC), acendendo um sinal vermelho sobre a qualidade da formação médica.
“A expansão desenfreada de cursos nos últimos anos criou uma falsa sensação de acesso universal, sem garantir a qualidade mínima exigida. O Enamed não resolve tudo, mas expõe quem está, de fato, preparado para formar médicos”, pontua Faustino.
Com a criação do Enamed, o desempenho dos estudantes ganhará peso estratégico, afetando desde rankings institucionais até políticas de financiamento estudantil. Universidades que apresentarem resultados consistentes deverão consolidar sua reputação; outras precisarão se reinventar — sob pena de perderem competitividade e atratividade no mercado.
Além disso, o exame será aceito como critério adicional no processo seletivo do Enare (Exame Nacional de Residência), unificando as etapas da jornada formativa e pressionando ainda mais a qualidade dos cursos de graduação.
“Trata-se de uma transformação profunda, com efeitos diretos no fluxo de capital institucional e nas decisões estratégicas das mantenedoras. Não se trata apenas de formar médicos, mas de garantir qualidade assistencial para o país”, completa o CEO do FGMED.
A previsão do MEC é que mais de 42 mil estudantes realizem a primeira edição do exame, que abrangerá cerca de 300 cursos de Medicina em 200 municípios. As inscrições serão abertas em maio de 2025, com aplicação prevista para outubro. Os resultados devem ser divulgados até o fim do ano.
A comunidade médica e acadêmica encara o novo exame com expectativas mistas: de um lado, o reconhecimento da urgência por critérios mais sólidos de avaliação; do outro, o receio sobre a capacidade das instituições em se adaptar à nova régua de exigência.
O consenso, no entanto, é inevitável: a autorregulação deu lugar à mensuração objetiva da qualidade. E, a partir de agora, cada curso terá de provar seu valor com dados, não apenas com diplomas.
Com a implementação do Enamed, a busca por diferenciação profissional torna-se ainda mais estratégica para médicos em formação ou já atuantes.