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Museu Judaico de São Paulo conecta histórias, cultura e discussões contemporâneas

A exemplo de outros museus judaicos do mundo, o MUJ apresenta histórias plurais judaicas conectando-as ao público brasileiro

Museu Judaico de São Paulo Foto: Fernando Siqueira

Localizado no antigo prédio do templo Beth-EL – uma das sinagogas mais antigas da cidade – o Museu Judaico de São Paulo abriu suas portas em 2021. O espaço fica na Rua Martinho Prado, 128, no bairro da Bela Vista, e passou por um processo de restauração, modernização e a construção de um prédio contemporâneo anexo para finalmente receber o público.  Além de quatro andares expositivos, os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas.

Com três exposições simultâneas — duas de longa duração, sendo elas A vida Judaica, sobre os rituais e ciclo de vida judaico e Judeus no Brasil: histórias trançadas, que expõe as várias correntes migratórias dos judeus para o Brasil, do início da colonização ao Brasil republicano; e uma temporária:  Artistas do Papel: Obras colecionadas por Ruth Tarasantchi para o acervo do MUJ, que reúne obras em papel pertencentes ao acervo do Museu Judaico de São Paulo e doadas pelas autoras ou seus familiares, por intermédio de Ruth Tarasantchi, uma das fundadoras da instituição. Estão à frente do projeto o presidente Sergio Simon, o diretor executivo Felipe Arruda e, na curadoria, a pesquisadora e crítica Ilana Feldman, além do grupo de voluntários que construiu a instituição.

A programação expositiva do museu tem por objetivo cultivar e manter vivas as diversas expressões, histórias, memórias, tradições e valores da cultura judaica, tecendo também um diálogo com o contexto brasileiro, com o tempo presente e com as aspirações de seus diferentes públicos, criando assim uma matriz baseada em princípios de diversidade, resistência e atualidade.

O “Concebemos o Museu Judaico de São Paulo como um espaço de visões plurais sobre o judaísmo, apresentado como um complexo sistema cultural e identitário, que está sempre se reinventando. A partir da experiência judaica, o MUJ reflete sobre o tempo presente e cria tranças com a diversidade cultural do contexto brasileiro, acionando debates sobre preconceito, intolerância e outras questões sociais e políticas urgentes”, afirma Felipe Arruda.

DIVERSIDADE E CONTEMPORANEIDADE

Com presença em solo brasileiro desde o século XVI, as narrativas judaicas no Brasil são extremamente diversas, fazendo parte, de forma capilar, da formação do país e apresentando histórias únicas de resistência e senso de comunidade. A história de um povo com uma trajetória milenar liga-se à força da comunidade judaica em Recife e ao judaísmo amazônico, exemplos de reverberações locais que, por mais que se diferenciem em alguns pontos, compartilham as mesmas narrativas originais.

O MUJ aborda a história e a memória como fenômenos vivos, que costuram passado, presente e futuro, mas também se dedica a incentivar as produções artísticas contemporâneas, promovendo um diálogo profícuo entre as narrativas e expressões judaicas, a cultura brasileira e a arte contemporânea. Sendo um museu conectado a seu tempo, o MUJ integra a narrativa memorial de seu acervo histórico – como um talit com mais de 150 anos e talheres vindos de um campo de concentração, além de numerosos documentos e objetos – às produções atuais que elaboram a experiência judaica. Segundo a curadora do MUJ, Ilana Feldman, o museu “não é apenas lugar de preservação e difusão, mas de produção de conhecimento e experiências, em conexão com o tempo presente”.

EXPOSIÇÕES

As exposições materializam um rigoroso trabalho curatorial e museológico, fruto do esforço da instituição para estabelecer pontes de diálogos tanto dentro da comunidade quanto para o público não-judeu. A partir de obras multimídia, objetos históricos, documentos e fotografias, o museu apresenta quatro exposições.

Como aponta Sergio Daniel Simon, presidente do Museu, “tanto a presença quanto a perseguição contra o seu povo no Brasil acontecem há séculos”. Fugindo dos usuais estereótipos históricos que se concentram apenas no brutal antissemitismo disseminado durante a Segunda Guerra Mundial, Simon destaca a perseguição dos criptojudeus ibéricos flagelados pela Inquisição. São, portanto, cinco séculos de resistência e força, materializados nas programações do MUJ. Seguem abaixo informações sobre cada uma das exposições:

EXPOSIÇÃO “A VIDA JUDAICA”

A primeira exposição de longa duração, A vida judaica, apresenta os costumes e rituais pelos quais o judaísmo se conecta com o sagrado, demarca o tempo, estuda seus textos, festeja valores, elege seus alimentos típicos e vivencia coletivamente cada etapa da vida. Aborda, portanto, os acontecimentos cotidianos da vida judaica, entendendo-os não somente sob o prisma religioso, mas também como fenômeno cultural.

EXPOSIÇÃO “JUDEUS NO BRASIL: HISTÓRIAS TRANÇADAS”

Nesta exposição, o objetivo é tecer uma complexa narrativa da pluralidade da presença judaica no Brasil a partir dos diversos fluxos migratórios ao longo de 500 anos. A mostra analisa ainda a pluralidade resultante dos diversos pólos de implantação das comunidades judaicas no Brasil e de que formas os costumes que pautam a vida judaica se comportam em suas dinâmicas intergeracionais, sejam elas a partir de vivências individuais ou coletivas. A exposição mostra também como a comunidade judaica brasileira apresenta inúmeras interseções e confluências na contemporaneidade, embora tenham diferentes matrizes culturais e geográficas.

Alguns objetos apresentados na mostra remetem aos vínculos de Dom Pedro II com o judaísmo no Brasil Império. Ela inclui, por exemplo, um fac-símile de um fragmento de uma Torá que pertenceu ao imperador, encontrada na Quinta da Boa Vista, antiga residência imperial desde a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil, hoje no acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Artistas do Papel: Obras colecionadas por Ruth Tarasantchi para o acervo do MuJ

A mostra reúne 32 obras de artistas mulheres judias feitas em papel em variadas técnicas, visando destacar a importância da presença de mulheres no núcleo artístico. É a primeira exposição composta exclusivamente por obras do acervo do Museu. As peças foram coletadas por Ruth Sprung Tarasantchi, curadora e uma das fundadoras do Museu Judáico de São Paulo, que as recebeu como doações das próprias artistas ou de seus familiares, e trazidas à exposição em curadoria conjunta de Felipe Chaimovich.

O CENTRO DE MEMÓRIA DO MUJ

O Centro de Memória do MUJ é oriundo do espólio do antigo Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, coletando e catalogando documentos raros sobre a comunidade judaica no Brasil. Uma das principais iniciativas da instituição é revitalizar esse acervo documental, tanto no seu aspecto físico, de restauração, conservação e catalogação, quanto no âmbito narrativo, proporcionando o acesso atual a documentos que ajudam pessoas a compreenderem suas relações genealógicas com as dinâmicas históricas judaicas. São mais de 20 mil livros (8 mil em íidiche), 100 mil fotos, 400 depoimentos de história oral, 1 milhão de documentos, periódicos e outros registros que versam sobre os imigrantes, as instituições, a cultura e a contribuição à sociedade brasileira. Tal gesto possibilita uma história viva que redescobre, na atualidade, gerações e elos até então perdidos.

AÇÕES EDUCATIVAS

Educação e Participação é o programa de mediação cultural do Museu Judaico de São Paulo, voltado à produção de experiências compartilhadas e à construção de conhecimento por meio do diálogo, da troca e do debate. Comprometidas com seus diferentes públicos, as ações de Educação e Participação do MUJ compreendem, como parte de sua programação fixa, visitas mediadas com grupos agendados e espontâneos, oficinas de atividades, contação de histórias, mediação de leituras, encontros com professores, cursos, palestras e ações territoriais.

Sobre o Museu Judaico de São Paulo (MuJ) 

O Museu Judaico de São Paulo cultiva e apresenta a diversidade das expressões da cultura judaica em diálogo com o contexto brasileiro e com o contemporâneo, dedicando à defesa dos direitos humanos e ao combate ao antissemitismo e a todas as formas de preconceito. Fruto de uma mobilização da sociedade civil, o MUJ foi inaugurado em 2021 como o maior museu judaico da América Latina e guardião do maior acervo judaico brasileiro. Além de quatro andares expositivos, com exposições permanentes e temporárias, o museu realiza festivais literários, concertos musicais, seminários, debates, publicações, oficinas e um amplo programa educativo, sempre entrelaçando perspectivas judaicas e não judaicas. Os visitantes também têm acesso a uma biblioteca com mais de mil livros para consulta e a um café que serve comidas judaicas. 


Para os projetos de 2024, o MUJ conta com o patrocínio do Itaú e com o apoio de B3, a bolsa do Brasil, Banco Safra, Klabin, Porto, Banco Alfa, Banco Daycoval, Deutsche Bank, Dexco, Leal, BMA Advogados, Cescon Barrieu, Leo Madeiras e Verde Asset. A exposição conta com o patrocínio da Aramis, parceria de Tapetes São Carlos, Mionetto, e JCDecaux como parceria de mídia.

Serviço:

Museu Judaico de São Paulo

Endereço: Rua Martinho Prado, 128 – São Paulo, SP

Funcionamento: Terça a domingo, das 10 horas às 19 horas (última entrada às 18h30) Ingresso: R$ 20 inteira; R$10 meia. Sábados Gratuitos

Classificação indicativa: Livre

Acesso para pessoas com mobilidade reduzida