Roger Waters em BH: show marcado por arte, emoção e defesa da dignidade humana
A noite belo-horizontina da turnê brasileira “This is Not a Drill”, de Roger Waters, no Mineirão, foi digna.
Sim! E e essa pode ser a última turnê do artista.
Cerca de 40 mil pessoas assistiram Roger Waters, no melhor dos seus 80 anos, exaltaram seu lugar entre as lendas do Rock mundial e sua voz em nome dos direitos humanos e causas ambientais.
Ele cantou e tocou guitarra, violão, piano e baixo.
O show contou com muitos recursos visuais junto a paisagem sonora impecável, escolhas impactantes de imagens para cada música de um repertório, onde os clássicos do Pink Floyd estavam presentes para o delírio da plateia.
O jeito Waters de se apresentar, ganhou momentos impactantes, fortalecendo sua marca. Entre eles, a abertura do show trouxe Roger vestido de médico, sentado em frente à uma cadeira hospitalar vazia munida suporte de soro, interpretando “Comfortably Numb”, composta em 2022. Noutro momento, Roger em camisa de força, atravessa o palco, conduzido por dois homens. Ele está sentado numa cadeira de rodas, onde o microfone adaptado, dará voz à performance. Nos telões, as grades brancas, com o número 1943, data de nascimento do artista.
Numa sucessão interconectada de performance e recados para valorizar o ser em contraponto ao capitalismo, à corrupção, às guerras, à violência em expressões de racismo, misoginia e tudo que desrespeita a diversidade e a dignidade humana, Roger deu seus recados. Através dos LEDs, pirotecnia, luzes e mais. Em alusão ao álbum “animals” – com a música “Sheep” -, uma ovelha gigante sobrevoou o gramado. O mesmo aconteceu com o porco “voador”, que trouxe cravado no corpo, o alerta: “He’s mad. Don’t listen/ You’re up against the wall right now”.
Para citar outros momentos de destaque, é preciso mencionar falas de Waters ou frases dos telões, como “Stop The Genocide”,” Direitos humanos” e imagens e vídeos de líderes americanos e mundiais, em crítica à sua postura desumana.
“I wish you were here foi uma das canções em que o coro de milhares se destacou. Nela, a pancada de outro despertador: “Quando você perde alguém que ama, isso serve para lembrá-lo: é fácil esquecer que a vida é aqui e agora. Isso não é um treinamento”.
O ídolo fez homenagens especiais, dedicando canções à sua esposa e seu irmão e, ainda, a Bob Dylan. “The bar” foi dedicado à Palestina. A libertação de Assange foi tema de uma das falas de Roger. Sob aplausos.
Roger Waters agradeceu o público com o obrigado em português e recebeu dele um coro afinado em paródia do canto pro-Lula: “Olê, olê, Olê, olá, Roger, Roger!” Fez o L, apresentou um a um dos músicos de palco e, com todos eles, encerrou o espetáculo, após sair do palco, com imagens da coxia. No telão, o vimos estampando visível alegria em dança e música.
Não houve bis e não seria necessário. O show, que começou com raios e trovões, para não dizer bombas e explosões, nos colocou num campo de guerra, em vivida dor do que nunca experimentamos. Um ser humano não sairia das mais de duas horas desse encontro, sem olhar a realidade do universo desumano, de frente. Com mais de 20 canções em dois atos, e breve intervalo de cerca de 20 minutos, Waters garantiu a mensagem da boa música e do desejo de paz mundial, amplamente, defendida durante a vida desse grande artista.
PS.: sobre as produções externas e locais, um show de qualidade, organização, acolhida e entrega. Do fosso frontal do palco, copos de água mineral foram distribuídos ao público durante o intervalo e após o show. Isso pode ter acontecido em outros pontos do estádio.
Independentemente do ato, gerações inteiras, representadas por famílias e grupos vários, viveram uma grande e histórica noite, no estádio da capital mineira.
Márcia Francisco, jornalista e escritora