O uso de telas é uma faca de dois gumes; enquanto nos conecta a um mundo de informações, também pode encolher nossa capacidade de atenção e prejudicar a saúde do nosso cérebro

Enquanto você começou a ler este artigo, certamente, o seu smartphone já recebeu uma notificação ou o seu navegador já enviou outro estímulo que pudesse dispersar a sua atenção. Mesmo assim, é difícil imaginar as nossas vidas sem as telas que nos acompanham em todos os momentos.
Mas será que essa convivência toda não está cobrando um preço muito alto? Estudos recentes apontam que o uso excessivo dessas tecnologias pode, sim, estar encolhendo nossa massa cerebral e diminuindo nossa capacidade de atenção.
A comprovação da queda de atenção atual
Segundo a professora Gloria Mark, da Universidade da Califórnia, o tempo médio em que conseguimos focar em uma única tela caiu de 2,5 minutos, em 2004, para apenas 47 segundos, em 2021. Isso mesmo, só 47 segundos!
Essa mudança drástica revela uma realidade alarmante: estamos cada vez mais dispersos, perdendo a capacidade de nos concentrar em uma única tarefa.
Em sua pesquisa, apresentada na Conferência SIGCHI de 2008, Mark encontrou uma correlação direta entre o aumento do estresse e a frequência de mudança de atenção.
O nosso cérebro está em perigo
Pesquisas citadas pelo The Guardian comprovam que o consumo excessivo de mídias sociais e conteúdos de baixa qualidade – como notícias sensacionalistas e teorias da conspiração – pode literalmente encolher a nossa massa cinzenta.
Em um estudo realizado por uma equipe da Universidade de Londres, após 80 testes clínicos, ficou evidente que o uso diário de e-mail e celular causava uma queda média de dez pontos no QI dos participantes – um impacto descrito como mais prejudicial do que o uso de maconha.
É irônico pensar que, enquanto buscamos entretenimento e informações rápidas, estamos, na verdade, colocando nossa saúde mental em risco.
A dependência digital e suas consequências
Uma análise de 27 estudos de neuroimagem revelou que o uso exagerado da internet está ligado a uma redução na massa cinzenta em áreas do cérebro que cuidam do processamento de recompensas e do controle de impulsos.
Michoel Moshel, da Universidade Macquarie, compara essas mudanças às que ocorrem em dependentes químicos. É como se estivéssemos nos viciando em algo que deveria nos ajudar, mas que, na realidade, está nos deixando mais lentos e distraídos.
Além disso, um outro estudo, desta vez publicado na revista Neuropsychology Review, analisou 34 referências anteriores e comparou o desempenho cognitivo de indivíduos com uso desordenado de telas àqueles sem essa condição.
Os resultados foram claros: os que apresentavam uso excessivo de telas mostraram um desempenho cognitivo significativamente pior, afetando habilidades essenciais como atenção, memória e resolução de problemas.
Essa realidade não se limita a adultos, pois estudantes estão igualmente vulneráveis a essas consequências.Não por acaso, a nova Lei nº 15.100/2025 foi criada para restringir o uso de celulares nas escolas, tanto públicas quanto privadas. Essa medida é um passo importante para tentar melhorar a concentração dos alunos, principalmente os que estão se preparando para o ENEM 2025 . Limitar o uso das telas nas salas de aula pode ajudá-los a recuperar a atenção e o foco que andam tão escassos.