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Tradição Judaíca em Castelo de Vide e Belmonte

1989, Presidente Mário Soares apresentou Pedido Formal de Desculpas aos judeus

Divulgação

Em 1989, Mário Soares, então Presidente da República, apresenta, em Belmonte, um pedido formal de desculpas à comunidade judaica pelo sofrimento infligido pela Inquisição e pela Monarquia aos Judeus Portugueses.

Dirigindo-se aos Judeus de Belmonte, Mário Soares afirmava: “Ergam as vossas cabeças e tenham orgulho nas vossas nobres origens.”

De facto, nenhum outro local poderia ter sido escolhido para fazer esta declaração.

Não foi o Brasil ou Pedro Alvares Cabral que levaram a Belmonte Samuel Schwartz: Judeu polaco que viveu em Portugal e que publicou, em 1925, o livro “Os Cristãos Novos em Portugal no Séc. XX”.

Nele, descreve a forma como friamente foi recebido em Belmonte quando aí se deslocou para conhecer a comunidade marrana que sabia existir. Desafiado a rezar com eles uma oração judaica, respondeu que só poderia rezar em hebraico, língua totalmente desconhecida para a pequena comunidade.

Schwartz recitou “Shemah Israel” e, ao pronunciar a palavra Adonai, foi admitido na comunidade, tomando parte nos seus rituais “secretos”.

A origem da comunidade judaica de Belmonte está comprovada documentalmente, pelo menos desde o séc. XIII, época em que a vila se encontrava em franco desenvolvimento, justificando a existência das Igrejas de São Tiago e Santa Maria e de uma Sinagoga.

A comunidade era no século XVI, essencialmente rural, dependente da agricultura e da pecuária. A presença da comunidade hebraica favoreceu o desenvolvimento do comércio prejudicado com o édito de 1496 e com as perseguições da Inquisição.

A Judiaria compreendia as ruas de Marrocos e Direita de Marrocos, hoje Rua da Fonte da Rosa e Rua Direita, respectivamente.

Esta área, constitui juntamente com a Rua da Sé, o centro medieval da vila de Belmonte. De facto, a comunicação entre as três ruas faz-se, ainda hoje, por pequenas ruelas e guetos onde outrora viveriam judeus, mouros e homiziados.

Foto: Suely Calais/Divulgação Visit Center of Portugal

A presença da comunidade judaica em Belmonte desde a Idade Média é atestada pelas referências documentais à sisa judenga e pela inscrição em hebraico, datada de 1297, que no início do séc. XX foi encontrada na Capela de São Francisco:

“E Adonai está no seu Templo Sagrado/ Emudece perante Ele toda a Terra”

A lápide teria pertencido à Antiga Sinagoga, posteriormente adaptada ao culto cristão. A proximidade fronteiriça e a existência de uma comunidade judaica activa seriam certamente à semelhança do que acontecia com outras comunidades, factores de atracção determinantes à fixação dos judeus expulsos de Castela em 1492.

No final do séc. XV, também em Portugal, as comunidades judaicas acabariam por confrontar-se com um clima de perseguição, segregação e intolerância que os força ao Baptismo ou à expulsão. Uma nova comunidade surge, os Cristãos Novos, judeus forçosamente conversos que a partir do séc. XV, são obrigados à dissimulação religiosa.

A permanência de judeus que, apesar das perseguições de que eram alvo, mantinham a prática do judaísmo, é evidente nos inúmeros processos inquisitoriais de que forma alvo vários moradores ou naturais de Belmonte, nos sécs. XVI, XVII e XVIII.

Depois da conversão forçada e do estabelecimento da Inquisição, os judeus de Belmonte passaram a criptojudeus que, apesar de tudo e ao longo dos séculos permaneceram fechados no seu segredo e mantiveram as suas tradições até ao presente.