O Knesset, fundado em 1949, atual Parlamento de Israel, fica em Jerusalém
A ABRADJIN – Associação Brasileira de Descendentes de Judeus da Inquisição, por meio do Dr. Marcelo Miranda Guimarães, presidente do Museu da Inquisição, nosso amigo comum, tem uma sugestão para que a documentação da CIL – Comunidade Israelita de Lisboa, e da Conservatória de Registros Centrais, como judeus sefarditas, tenha o reconhecimento pelas Autoridades do Estado de Israel, relativamente às atuais leis de imigração. Como o Sr. e a Frente Parlamentar Brasil-Israel podem nos ajudar a atingir esse nobre e justo objetivo?
O Estado de Israel foi criado para receber os judeus. Hoje Israel é múltiplo em termos de religiosidade. É o lugar único do Oriente Médio onde os cristãos aumentam em número, são protegidos por lei, podem participar da política, do exército, ter atividades livres e trabalham como como cidadãos de Israel. Mas a imigração para Israel, só é possível quando a pessoa se torna um judeu, porque Israel não tem uma Constituição, mas é o rabinato quem define, em última instância, as políticas de imigração. Então, hoje, vejo com muito pessimismo a possibilidade de que o nosso certificado de Portugal seja aceito, porque muitos dos nossos continuam cristãos e não se convertem novamente ao judaísmo, mas são descendentes e, em tese, teriam direito. O grupo vai levantar essa questão, eu quero conversar com o embaixador de Israel sobre esse assunto e, quem sabe, futuramente, pelo menos, levantarmos a discussão no parlamento. Na minha próxima visita a Israel, eu espero poder discursar lá no Parlamento e colocar essa proposta para os representantes do Estado de Israel, para que eles avaliem a possibilidade do certificado serem válidos para o pedido de cidadania.
Qual sua opinião sobre a Proposta de Lei 72/XV/1º., em tramitação na Assembleia da República, em Lisboa, que faz profundas alterações, na Lei 30ª, na reparação histórica da perseguição sofrida pela comunidade judaica a partir do reinado de D. Manuel I, que possibilita o retorno à comunidade portuguesa de descendentes de judeus expulsos ou que fugiram da malfadada Inquisição do Santo Ofício?
Portugal deu, ao meu ver, um grande passo, um passo importante realmente na história em reconhecer os crimes da Inquisição e permitir aos descendentes daqueles que saíram de Portugal, tiveram a sua vida ameaçada, a sua integridade física, a sua liberdade religiosa desrespeitada, a possibilidade que esses descendentes pudessem ter a cidadania portuguesa. E Portugal hoje precisa de imigrantes. Portugal precisa de trabalhadores. Portugal precisa de pessoas que tenham vínculo e é o caso dos descendentes sefaraditas. Infelizmente, nós tivemos um abuso por parte inclusive da emissão de um certificado para um judeu russo, e isso acabou se tornando um escândalo de corrupção que o parlamento português decidiu acabar com a lei e nos prejudicou a todos. Agora a lei passou por mudanças, a obrigatoriedade de confirmação de vínculos é praticamente impossível de se provar e, ao que parece, eles querem acabar com a lei até o final do ano. O que, a meu ver, será um retrocesso nesse reconhecimento e na correção da história que Portugal acertou, como eu disse, em buscar uma reparação. Eu espero que o Parlamento português tem a sensibilidade e não vote, não aprove esta lei em respeito aos nossos antepassados, eu que sou de família sefaradita, tenho todo o meu vinculo já emitido pela Comunidade Israelita de Lisboa, vejo com tristeza a possibilidade de que os descendentes não tenho como usufruir da cidadania dos nossos antepassados tão perseguidos.
Sobre o Museu da História da Inquisição, único em todo o Brasil, o que o Sr. pode nos falar sobre essa iniciativa e como poderá ser o apoio, da Frente Parlamentar Brasil-Israel, para sua divulgação e maior conhecimento da iniciativa em todo o Brasil e no exterior?
O Museu da Inquisição é uma peça importantíssima em esclarecer a história da religiosidade em Minas Gerais. Muitas pessoas não gostam porque entende que o museu seria um ataque à Igreja Católica, ao respeito e à tradição. Nada disso! Nós não podemos esquecer e deixar a história ser apagada. Especialmente a história de milhares de judeus que vieram para o Brasil e aqui construíram suas vidas debaixo de muita perseguição e os seus descendentes, como a minha família, perseguidos durante muitos e muitos anos e, no meu caso, até por um século e meio, sem a possibilidade de retornarem a Portugal ou mesmo terem uma vida tranquila, a vigilância era muito severa. Então, o Museu da Inquisição nos ensina inclusive sobre a liberdade religiosa. Nós não podemos voltar a um passado de perseguição que não respeita as pessoas. É um exemplo vivo de um aprendizado histórico e, em momento algum, de crítica ou ataque a qualquer outra igreja ou instituição religiosa.
Conte-nos sobre os objetivos da Frente Parlamentar Brasil-Israel, suas metas à frente da Presidência e quais são os principais membros do Senado e da Câmara.
O Grupo Parlamentar Brasil Israel tem o objetivo de ampliar os laços de amizade entre os nossos países e, principalmente, divulgar as possibilidades de intercâmbio nas áreas comercial, nas áreas de tecnologia e de formação de mão de obra entre Brasil e Israel. Nós temos hoje já tratados importantes, mas que podem ser ampliados. Infelizmente, nós temos visto aí casos de intolerância nas universidades brasileiras. Em São Paulo, tivemos os professores de uma universidade de Tel Aivi, quase que agredidos. Também lá no Amazonas, agora recentemente, foram falar sobre investimento em Israel e o grupo de alunos não quis permitir a palestra, uma servidora foi agredida. Então, o nosso grupo tem o objetivo de que a gente denuncie esse tipo de intolerância e que a gente amplie os laços entre os países que são irmãos. O povo de Israel tem um carinho muito grande pelo Brasil e pelos brasileiros.