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202 anos do término da Inquisição Luso-Brasileira

POR: TIAGO ZANDONA GUIMARÃES

Shalom a todos!

Foi uma grande alegria para mim e para toda a diretoria do Museu da História da Inquisição receber todos vocês para este Shabat especial alusivo ao Dia em Memória das Vítimas da Inquisição, criado pela Lei Municipal 10.850/2015 de Belo Horizonte.

Não haveria sentido pleno para homenagear as milhares de vidas que foram perdidas e queimadas cruelmente nas fogueiras da inquisição portuguesa, pessoas consideradas sem alma e que deviam ser extirpadas da sociedade.

Portanto, o que desejamos expressar neste caloroso shabat é uma reflexão à vida e não aos mortos.

Desde a fundação do Museu fomos arduamente indagados, e passamos por isso até hoje, o porquê de não criar um museu sobre a cultura e história dos Judeus, por que falar de um tema triste e pesado como a Inquisição?

Primeiramente, queremos trazer à tona uma a riquíssima parte de nossa história que está registrada nos antigos arquivos da Torre do Tombo de Lisboa, porém ignorada pela maioria das universidades brasileiras e completamente desconhecida do público em geral.

Poucos sabem que o Brasil foi um tipo de “mar vermelho” que se abriu a esses cristãos-novos (judeus obrigados à conversão ao catolicismo), quando aqui desembarcavam com seus familiares, fugindo do Tribunal do Santo Ofício que perseguiu, censurou, extraditou, torturou e matou milhares de pessoas, durou mais de três séculos no Brasil, sendo extinto oficialmente somente em 31 de março de 1821.

 Não podemos deletar da história do Brasil a importante presença dos judeus holandeses de origem portuguesa que em tão pouco tempo marcaram para sempre presença no nordeste brasileiro, fundando as primeiras sinagogas na cidade de Maurícia que deu origem à linda Recife.

Já no Sudeste não podemos negar a participação dos cristãos-novos no Ciclo do Ouro nas Minas Gerais. Nesta época, a construção da Estrada Real no século XVIII e o desbravamento dos Bandeirantes, dentre eles cristãos-novos, como Raposo Tavares, Irmãos Fernandes, Borba Gato entre outros deixaram um grande legado na colonização de nosso Estado, nas tradições e costumes estão em detalhes mostrados em nosso Museu.

Eu creio que toda essa história tem sua significativa importância, mas não nos trazem por si só esperanças de dias melhores.

Então, de fato, o que podemos trazer à memória daquilo que realmente pode nos trazer esperanças?

– Primeiro: que nunca mais essa triste e descabida história se repita;

– Segundo: temos esperança que é possível recuperar e preservar a história da identidade desses assimilados cristãos-novos. Resgatar sua cultura, sua etnografia, suas peculiares tradições, costumes e crenças que nos levam ao conhecimento do que fomos, do que somos e do que poderemos ainda ser;

– Terceiro: uma vez que a identidade desse povo seja restaurada, com certeza sua missão e propósitos serão cumpridos e quiçá um dia, poderão retornar à terra de Israel, o berço de seus ancestrais;

– Quarto: é possível formar uma sociedade mais livre e tolerante, que respeite os direitos de cada cidadão na sua integridade, abominando qualquer tipo de discriminação racial e de credo.

Isto sim nos trará esperanças de dias melhores, quando anualmente o Museu recebe centenas de crianças, jovens e acadêmicos, profissionais de diversas esferas …..que aprendem a importância de combater o fundamentalismo e extremismo religioso que fere os direitos humanos, o respeito e a dignidade humana.

Eu penso que assim o Museu contribui para que tenhamos autonomia suficiente para continuar escrevendo a nossa própria história, mas aquela que constrói, edifica e dignifica o ser humano, criado à imagem do Criador de todas as coisas.

 E termino esta abertura reiterando que “A inquisição foi o resultado de uma fé cega que jamais proveio de Deus e dos ensinamentos judaico-cristãos. Foi uma fé alimentada pela arrogância humana, que levou a defesa de uma falsa verdade baseada em dogmas e más interpretações dos fundamentos bíblicos que foram mesclados com ideologias idólatras de seus próprios reis e impérios, numa infeliz junção da soberania da Igreja com o Estado que somadas produziram uma cruel e desumana política de salvaguardar seus próprios interesses sob ares de uma “salvação” nutrida pelo ódio da intolerância”

Deixo aqui meus sinceros agradecimentos a todos presentes nesse memorável Dia que trará a lembrança a cada ano a consciência que podemos viver melhor quando respeitamos o direito de crença de todos.

Agradeço ao Eterno por esta solenidade e que Ele abençoe a todos.

Meu muito obrigado.

Crédito da foto: Pixabay