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Em Gouveia, destacada inscrição hebraica

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Em Novembro de 1967, enquanto se procedia à demolição de casario para a construção do atual edifício dos CTT, surge uma irreverente inscrição, mais tarde interpretada como o lintel da entrada da sinagoga tardo-medieval de Gouveia.

A mesma surgiu com um capitel quinhentista e um fragmento de coluna onde estava gravado, em baixo-relevo, um hexagrama (objetos, entretanto, desaparecidos).

O suporte da inscrição é
granito e esteticamente é irrepreensível, o que permitiu a sua leitura, que ainda assim não é consensual.

O suporte tem 1.10m de comprimento por 0.31m de altura.

O seu conteúdo foi traduzido da seguinte forma, pelo antigo Rabino de Lisboa (1968), Isaac Toledano: “Grande será a honra
desta última casa mais que a primeira, disse “adonai” (senhor) dos exércitos.

Acabou-se a casa da nossa santidade e da nossa formosura (em 5257). E vamos a Sião em canto/alegria”.

Os caracteres da última palavra foram pontuados com um símbolo – semelhante a um acento agudo – que lhes atribui um valor numérico, dando-nos um ano, talvez referente ao ano de
construção ou inauguração da mesma.

Leu-se o ano 5257 da era judaica, contudo a sua relação com a era cristã ainda apresenta algumas disparidades.

Na leitura do Rabino Isaac Toledano (1968) o ano é o de 1496. Numa leitura recente, realizada pelo atual rabino da Comunidade Israelita de Lisboa, Ruben Suiza (2022), aponta-se o ano de 1492.

Seguro será que a construção deste espaço representa uma das últimas construções hebraicas na Península Ibérica, ou talvez mesmo a última sinagoga a ser erigida antes do édito da expulsão de D. Manuel I, em 1496.

A construção é ainda resultado do crescimento abrupto da comunidade local no final da centúria de quatrocentos, quando dezenas ou centenas de milhares de refugiados judeus espanhóis entram em Portugal, num contexto de perseguição religiosa no reino vizinho.

Este evento é superlativo para o entendimento desta comunidade e do seu papel no crescimento de Gouveia
como conjunto urbano e entidade cultural, explorado a partir da Casa da Vivência Judaica, em Gouveia.