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Lendas no tapete da Arena MRV

Texto e fotos por: Márcia Francisco, jornalista e escritora

Um grande amigo atleticano, saudoso e querido de tantos brasileiros, um dia escreveu e cantou:  “Certas canções duram pouco, outras são eternas. Por que carros e aviões, se tens sonhos e pernas”?  Vander Lee, dedico esse dia histórico para o Clube Atlético Mineiro a você, que sei, ia curtir se o testemunhasse. O “Jogo das Lendas” inaugurou o “tapete” (como é denominado o gramado) da Arena MRV, nesse domingo, 16 de Julho.

Protagonizado por ídolos de várias eras do Galo, o evento representou um teste para o estádio que nasce com a promessa de ser o mais tecnológico da América Latina e chega com o desafio de abrigar cerca de 46 mil pessoas. Hoje, recebeu 20 mil torcedores e admiradores do time mineiro. O local também sediará shows nacionais e internacionais. O primeiro deve ser de Jorge Mateus, no agendado para o dia 9 de setembro.

Inaugurado! E ao lado das experiências iniciais referentes à biometria facial para acesso (testada hoje, pela imprensa), sistema wi-fi gratuito, caixas móveis e cartões recarregáveis para compra de alimentação, trânsito no entorno e controle de estacionamento – aspectos que parecem estar sendo, fortemente, monitorados para gerar soluções em tempo hábil do primeiro jogo, previsto para agosto -, a vitória maior fica para os “sonhos” de cada atleticano” e as “pernas” lendárias presentes e, isso, é imprescindível registrar.

Quando em maio de 2021, Diego Tardelli se despediu dos campos, caminhando sozinho rumo a um dos gols de um Mineirão vazio, possivelmente não vislumbraria o momento de festa com a torcida, que viveria na Arena, dois anos depois. O artilheiro recebeu placa comemorativa de maior jogador do século, das mãos do presidente Sérgio Coelho e camisa com o número 112, alusiva à sua marca de gols pelo time alvinegro.

Teve foto histórica e foi Dadá Maravilha o escolhido para o pontapé inicial. Foi e fez, com toque maroto e sorriso no rosto, singular moldado pelo tempo de histórias incontáveis. Maravilha!

O hino nacional interpretado na voz de Podé (que fez história com a Banda TiaNastácia), com Lelo Zanetti (Skank), no baixo; Didi Xavier, na guitarra e Alexandre Oliveira, na bateria, vibrou a veia mineira da nossa arte, em escolha muito boa, para a estreia da Arena.

Nos jogos de hoje –  que duraram 25 minutos, cada -, o grito foi sempre Galo, nas rápidas sequências de gols. Nos três jogos se enfrentavam, as equipes de “Forte” – uniforme preto e “Vingador” – uniforme branco.  O segundo time, saiu invicto, celebrando as três vitórias.

Deixando as narrativas complementares para os colegas especialistas nas coberturas esportivas e os estudos de aperfeiçoamento tecnológico e logístico a quem habilitado for, quero aprofundar-me na experiência das emoções, como disse, antes… Para cravá-las no coração alvinegro, com alma lavada.

Ao reverenciarmos um ícone do esporte, é útil lembrar que não estamos celebrando um ídolo do passado. O aplauso é para uma história de vida que, no caso do “elenco” escalado para as três partidas comemorativas e sequenciais, segue, no cotidiano de cada um que pisou naquele gramado, hoje. Ídolos são para sempre. As lendas vivas foram, neste dia, expressão dessa verdade.  E do firmamento, antes dos jogos, outros brilhos receberam a reverência simbólica em 1 minuto de silêncio.

Ali na Arena, não havia rivalidades reais, o clima festivo estampado nos rostos dos jogadores, não deu importância a fatalidades, como o gol contra de Edgar. O direito adquirido dos aplausos, se expressou nas torcidas. Quarenta anos depois, poucos metros me separaram da finda espera de ver meu ídolo esportivo de adolescência, em campo: fora das telas. Já encontrei Éder Aleixo várias vezes, por aí. Mas, em campo, não. Vários lances e até o pênalti perdido foram registrados por mim. E, vi: “foi gol”: na memória do tempo. A assinatura da TV veio, hoje, para minha camisa.  Éder Aleixo, segue gigante e notável, aplaudido e tem minha reverência. E a honra de cada torcedor que ali esteve, se ergue ao infinito, pela contemporaneidade de tantos mestres. 

Quero fechar essa resenha com a visão inicial: a entrada dos jogadores. Cenas vibrantes, dignas de muito respeito. Um a um, passavam… em todos, algo em comum. Olhos brilhando, alguns marejados. Atentos aos passos, às arquibancadas, aos fogos e holofotes. No tapete, fulguravam duas cores e um só time. Um panteão, gerações de craques, todos do mesmo tamanho: gigantes.  Gentis, cedendo, entre si, vez e glórias, em elogios mútuos. Abraços. Mais abraços. Fotos, autógrafos, fãs de várias idades. Crianças correndo pelo gramado, fazendo pensar nos que ainda vêm.

Ficarão em nossas memórias e corações: os abraços, os olhos nos olhos, as expressões de gratidão entre jogadores e equipe técnica. Encontros notáveis, aparentemente, inusitados. Talvez, tão previstos, num universo superior em celebração.  

Reinaldo, Ronaldinho, Tardelli, juntos… e a bola da gentileza rolou nos diálogos e sorrisos. E risos.

Ali, estava Ubaldo Miranda, artilheiro da década de 50! Paulo Isidoro, Toninho Cerezo, Buião… Luan… Tucho, Valdir Todynho, Careca, Mancini…Teve Guilherme, sim! E gols dele, também. João Leite, São Vitor… e tanto mais. Levir Culpi, Marcelo Oliveira. Teve Belmiro e Galo Doido. Teve bom. Nutrição para enfrentarmos muitos varais e tempestades, e seguirmos “torcendo contra o vento” como, sabia e ‘atleticamente’, bem descreveu o eterno  Roberto Drummond, acerca da resiliência do seu (do nosso) time.

Após o jogo, o cantor Péricles entregou um show honesto que fez a massa permanecer na casa e cantar junto, em muitas canções.  

A Arena MRV já é a casa do Galo. Mas, esses ícones têm morada em muitos corações. Toda a torcida sabe, bem, a extensão desses quintais.