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Fim de tarde, fim do ano de 2022

Por: ROBERTO BRANDÃO

Neste horário, aqui no bairro Buritis em Belo Horizonte, onde moro, junta-se ao lindo poente avermelhado do final da primavera e início do verão, o som melancólico das maritacas. E são inúmeras. Sentado na varanda, de frente para esse belo panorama, disparo a escrever, tentando usufruir da gostosa sensação de ainda estar vivo, ileso, em meio a essa trágica e sombria pandemia. Alguém já deve ter dito que o bom de não morrer é estar vivo. Simples assim.

Sinto que o timbre repetitivo e uníssono do canto das maritacas pode me levar a buscar alguma inspiração para escrever coisas interessantes. E assim, fui viajando no tempo e cheguei ao Taiti para me encontrar com o grande escritor Ernest Hemingway para um bate-papo sobre maritacas. Mas, quando puxei o assunto, ele me disse logo não entender nada desses bichos; que gostava mesmo era de peixes, e fechou rispidamente: “Você sabe, eu sou um velho e gosto é do mar.” Voltei cabisbaixo para a solidão da minha varanda com maritacas e busquei outro assunto para pensar.

Vou, viajo e volto, tomo um copo de cerveja, escrevo mais um pouco, “regresso do Taiti” meio desapontado e assim vou levando.

Notívago e admirador de estrelas, vou buscando na memória casos vividos dignos de serem registrados para a minha distração e a dos meus fiéis leitores.

Assim, lembrei-me de uma perigosa tarde de domingo na cidade americana de Denver, no Colorado, quando vagava a pé, sozinho, no centro da cidade. Um indígena, morador de rua, me perseguiu por diversos quarteirões; primeiro, pedindo uma esmola, depois, sem sucesso, começou a me agredir, tentando um assalto. Lutei e relutei com ele até que lhe apliquei um direto no queixo que o desorientou e ele saiu correndo apavorado. Ele para um lado e eu para o outro, para fugir do flagrante, como orientam os colegas advogados. Corri até o centro mais movimentado da cidade, ao longo da Larimer Street, o meu lugar preferido na cidade para refazer-me do susto, assentei-me num barzinho de rua e pedi logo dez Budweisers e cinco Heinekens Dark. Ufa! Que alívio! Só saí de lá às onze horas para uma noite tranquila de sonhos no Brown Palace Hotel e me lembrando de uma algazarra de maritacas que à tarde sobrevoam o Buritis em direção às árvores onde moram. Que som lindo!

E que o ano de 2023 nos traga esperança de muita saúde e alegrias. God bless.

Roberto Brandão é advogado, publicitário e escrivinhador

Crédito da foto: Pixabay